sexta-feira, 24 de abril de 2015

Aprender consigo mesmo

Ainda que houvesse a intenção de pensar diferente, todo conhecimento que chega passa pelo crivo da razão. Nisso se admite ser professor particular em qualquer situação.

O jeito de explorar as lições, no entanto, obriga a eleger variados mestres nos mais diversos campos da existência. Quantas e tantas vezes recusamos o ensino de companheiros de jornada, e isto porque o orgulho pesa mais do que o bom senso, na maioria das vezes. 

Em momentos quando pessoas menos cotadas nos impõem aulas de humildade, subimos nos cascos e revidamos, em gestos de furor e agressão. Pois receber conhecimento reclama simplicidade, bem longe dos gestos humanos comuns.

As chances de crescer, por seu turno, param de aflorar à frente dos passos de ser dono do nariz. Mas as histórias apontam deveres difíceis, trágicos, para quem se acha maior do que o tamanho e superior à proporção das circunstâncias. Porquanto a vida é um livro aberto, sujeito a determinações além dos caprichos adquiridos com o passar do tempo. 

Imagina-se ir construindo o futuro apenas raciocinando, deixando de lado os valores que não coincidem com interesses imediatos. De modo algum isso demonstra sabedoria. As ondas vêm agressivas e subjugam no chão os mortos comprometidos na ignorância dos que pretendem dominar o destino.

Aprender com os solavancos do caminho força a botar sempre as orelhas em pé, a barba de molho. Os colégios repassam saberes tradicionais, técnicos, adequados ao trabalho da sobrevivência. Contudo os mangues da história falam de outros aprendizados que cada indivíduo isolado é capaz de guardar, no decorrer das surpresas.

Jamais contar o número de oportunidades quando a dor ensinou a gemer, nas paradas deste mundo. Aprender na própria pele. O desengano da vista e furar os olhos. Abastecer no voo as naves do futuro. 

Por conta de tudo o que se cogitou no decorrer do tempo de séculos, as práticas da sociedade humana só permanecem à flor da água, livres e inesperadas, a produzir leis até então desconhecidas. 

A todo instante, coisas novas resultam esses aspectos desconhecidos, nas prateleiras, nos subúrbios perdidos da falta de assistência dos governantes vaidosos e das educações de gabinete. Todavia há de olhar de frente os saberes da rua, que merecerão espaço amplo nas barcas gordas do poder.

(Ilustração: Autorretrato de Michelangelo).

Nenhum comentário:

Postar um comentário