segunda-feira, 23 de julho de 2012

O masoquismo político


As intenções da grande população de acertar com seus propósitos sujeita ocasionar distorções. Isso de masoquismo, por exemplo, que significa sentir prazer na dor, também existe nos grupos sociais. Atitudes coletivas de cunho individual repercutem no todo, causando repetição de consequências por vezes longas e dolorosas.

Qual diagnostica o médico brasileiro Josué de Castro, no livro Geografia da fome (1946), ao estudar os mangues do Rio Capibaribe, em Pernambuco, a miséria dos povos ribeirinhos advinha da má alimentação, gerando um ciclo crônico que denomina Ciclo do Caranguejo, onde o caranguejo serve de alimento ao homem,  que, por sua vez, dejeta no mangue para realimentar os caranguejos depois virão lhe servir de alimento. A lama misturada com urina, excremento e outros resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo, vai ser. O caranguejo nasce nela, vive nela. Cresce comendo lama, engordando com as porcarias dela, fazendo com lama a carninha branca de suas patas e a geléia esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado o povo daí vive de pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber os seus cascos até que fiquem limpos como um copo. E com a sua carne feita de lama fazer a carne do seu corpo e a carne do corpo de seus filhos. São cem mil indivíduos, cem mil cidadãos feitos de carne de caranguejo. O que o organismo rejeita, volta como detrito, para a lama do mangue, para virar caranguejo outra vez.  

Assim, por parecença, acontece no Ciclo da Miséria Política dos países atrasados, em que eleitores aguardam os turnos das votações para escolher representantes ainda que destituídos de mínimos valores necessários ao desenvolvimento real da sociedade. O gesto dos eleitos impõe dependência material aos que os escolhem. O eleitor indica os que aliciam os votos, e quando eles chegam ao poder trabalhar visam recompor o patrimônio, na espécie de roda torta. 

Houve, uma vez, deputado da capital eleito nos interiores do Ceará que, ao ser abordado em Fortaleza por pessoa de Crato, que lhe reclamou a presença neste município que contribuíra em alguns milhares de votos para o mandato, respondeu:

- Voltar a Crato e agradecer a votação?! Nunca, pois foram aqueles os votos mais caros de minha campanha. Vocês de lá estão é me devendo...

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