terça-feira, 17 de julho de 2012

Lirismar Macedo

Uns dois anos depois que chegara a Brejo Santo para trabalhar no Banco do Brasil, ano de 1967, logo receberíamos na agência esse colega, José Lirismar de Macedo Sampaio, que vinha de Crato, onde vivera parte da sua história. Mantinha fortes laços com os habitantes do Brejo, porquanto é filho desta cidade.

Nisso, em breve Lirismar representaria peça importante dos meus relacionamentos dentro e fora do expediente bancário. Conversávamos assuntos do comum interesse, naquelas épocas de festivais, contradições mundiais e efervescência política. Principalmente de música popular e literatura, que preenchiam longos papos em bares e praças, do tipo da Lanchonete Fraklaite, à margem da BR-116, quase sempre o endereço dos finais de tarde.
Hoje vejo o quanto aprendi desse amigo, porquanto recolhia o melhor das conversas e buscava desenvolver nas influências. Através das informações recebidas, leria os livros de Hermann Hesse numa maior intensidade, dentre os quais Sidarta, O lobo da estepe e Narciso e Goldmund, que permanecem nos de minha predileção. Desenvolveria o gosto pela obra de Jorge Amado, escritor que lá adiante, na Bahia, pude conhecer de perto. Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois maridos; e, sobretudo, Os velhos marinheiros, da apreciação pessoal de Lirismar, seriam livros que apuraram meu gosto pela gente e costumes de Salvador, terra encantada em que moraria logo à frente, pátria de dois dos meus filhos.

Ele representou espécie de irmão mais velho na minha formação. Dotado de senso de humor inigualável, me ensinou jeito diferente de ouvir e falar, do que detém habilidade e o faz com propriedade, fruto da sua vocação radiofônica. Ainda em Crato, saboubera do seu talento através dos microfones da Rádio Educadora, em um programa noturno de larga audiência que apresentava.

E despertou em mim o afeto pela bossa nova, sobretudo pela obra de João Gilberto e Chico Buarque. No futuro, retribuiria esse particular trazendo as novidades dos baianos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Os Novos Baianos. Lembro de quando retornava, nas férias, sempre com lançamentos e notícias dessa família musical, pois testemunhava de perto as aventuras ensolaradas da Velha Bahia e seguia alimentando o nosso bom papo dos tempos anteriores.

Lirismar Macedo vive em Recife. De tempos em tempos, nos comunicamos. Segue votado à cultura literária e aos discos, inteligente, talentoso, bom pai, bom marido, amigo certo que preservo nas lembranças e no apoio inestimável dele recebido em fase difícil de adaptação profissional e acesso à idade adulta. Quisesse dizer das recordações e dos sentimentos que disponho quanto a tal personagem, outras páginas haveria de trazer palavras especiais contando da gratidão e do reconhecimento em bem maior quantidade.      

Um comentário:

  1. Tive o privilegio de trabalhar com Lirismar na Rádio Educadora, na década de sessenta. Um dos melhores locutor da época, era perfeccionista. Com ele, aprendi muito e guardo boas recordações.
    Ana Maria Tekes

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