Ontem inventei de caminhar pela cidade dos homens. Eu de todos
os sonhos reunidos, e isso que está ali fora, milhares de automóveis invadindo
o chão que antes só pertencia às árvores e aos pássaros, à natureza. Carros,
bólides, meteoritos, asteroides apressados nos mais diversos destinos e formatos,
a velha indústria do ferro temperado que tomaria de conta do universo. Ruas dos
seres esquisitos que vezes trafegam indiferentes, velocidades barulhentas, exóticas,
quais solos estridentes das guitarras amarelas dos anos 60. Focos perdidos pelas
distâncias do impossível suspenso no ar; quadros surreais doutras cinzentas galáxias.
Casais alucinados em cenas eróticas. Ruídos raspados de animais desconhecidos,
que arrastam no pescoço os sinais dos tempos. Revistas largadas no chão dos
corredores sujos. Clima de festas que chegaram ao fim, nas torpes madrugadas
suarentas.
No entanto ela corre nua de olhos acesos e deixa vontade
imensa que exista nalgum lugar, logo adiante, os encontros fortuitos. As marcas
deixadas no coração pelas inesquecíveis paixões. Outros que insistem buscar
saídas na esperança das preces. A certeza dessa vitória a caminho da luz, pois
forças vivas jamais nos deixarão abandonados. Certeza. Certezas.
Conquanto limitado ao território de nós mesmos, há indícios
claros dos dias melhores que vêm vindo pela resistência, alimento do desejo.
Religiosos sinceros, invés de comerciantes da fé. Os eleitos da alma, que
mantêm a consciência ligada nos amores puros. Eles, que existem no silêncio das
multidões. Numa conspiração de virtudes, circulam calados, porém firmes nos
seus propósitos.
Em clima de término de missão, desse modo perene a vida
continua entre as minas da civilização, nos equívocos egoístas das gentes de
cara assustada e faminta. Zumbis entregues aos afazeres dos instintos criam motivos
artificiais nas salas vazias. Cenas de filmes mudos ainda lembram esses povos
que imaginavam salvar o mundo e, depois, perderiam o trilho da história.
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