quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Tempos depois

Cá estou onde há 40 anos vivi durante sete anos. Em Salvador, a terra dos deuses, a Boa Terra da Bahia. Tempos de outras lutas. Horas de tantas contradições existenciais, atitudes arrevesadas, experiências por vezes bem sucedidas, poucas vezes, quem sabe. Muita fúria, muitos desejos inábeis. Tudo novo, tudo diferente da vida que vivera no interior do Ceará. Trabalho. Estudos. Amizades. Mundo por demais instigador de vivências inesquecíveis e equívocos que hoje regressam a cobrar, daquela fase, mais habilidade, melhores sentimentos, mais juízo, correção, objetividade.

E nisso vejo passar por dentro dos pensamentos o filme de tudo aquilo vivido naquela hora. Bom que seja ainda nesta reencarnação (quero pensar), quando ainda posso ressignificar os trapos dos erros antigos e tratar de reaproveitar o que possa ser reaproveitado. Sem dó, nem piedade, quais promotores de justiça rigorosos, os próprios comportamentos agora vêm de volta ao cerne das lembranças e crescem feitos visagens, a cobrar com juros providências morais e discernimento à época pouco considerados. Hárpias enfurecidas me fazem impostor do meu passado, qual houvesse desempenhado papéis que a outros pertencessem, e com o gosto amargo da ausência naqueles que me reclamavam, quando, talvez, outros os cumprissem de jeito menos oneroso que o fiz.

Que longas distâncias de mim agora constato, isso em ocasiões por demais importantes a que construísse futuro dadivoso, e jogara no ostracismo o meu dever de assim realizar. Evito aumentar o tamanho da conta, porém tenho que ser justo comigo mesmo, a fim de resolver o que deixei lá atrás naquele período, vista a chance rara de reencontrar o eu que preciso ainda trabalhar e ser nesta vida atual. Horas distantes, contudo tão de junto, no íntimo de indivíduo que continua a nascer e morrer a todo instante.

Os acertos, sobre eles transcorro de modo rápido, buscando ganhar tempo de solucionar os deslizes em aberto. Chegam fiapos de conversas, de músicas, de filmes, viagens, saudades, decepções, relacionamentos, expedientes, lições fartas de sentimentos crepitantes nas dobras da alma de então, que fustigam e mexem os entes das entranhas, e com isto baixo a cabeça. Luzes, quero luzes que os possam iluminar, e clarear o que o futuro me reserva, neste presente de rara intensidade e vigor, numa prenda que a vida ora me oferece.

2 comentários:

  1. salvador,terra de são salvador.bonito texto.

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  2. Muito bom voltar no tempo, rever as terras onde foi feliz e que como vc bem diz, lembranças tem vida própria, saudade também. Pronto, vc mais do que ninguém, sabe que caminho seguir. Iluminado como vc é facilmente encontrará o que for melhor para vc. Peço a Deus que vc descubra o que lhe trará mais felicidade e paz.Tenho certeza que conseguirá. Um grande abraço.

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