Esta história a ouvi de Dora, que ouvira de Mestre
Herculano, e quero agora contar:
Um bode, vivendo no Sertão, deparou seca de proporções
avassaladoras. Mesmo sendo caprino e sobrevivente nas dificuldades achar
alimento, bichos esse que digerem as substâncias mais imprevisíveis, atingira
os limites da fome sem alternativas.
Desconsolado, o animal vagava buscando o de comer nas quebradas
daquele verão ingrato, quando avista juazeiro verdinho no meio da garrancheira
da mata. Só que com dificuldade por certo intransponível, porquanto as folhas
da árvore ficavam lá no alto, longe do alcance do faminto animal.
Pensou, pensou, olhando pra cima e calculando modo possível
de chegar até a bela e apetitosa folhagem. Nisso, pegou no sono, de inanição e
fraqueza. E dormiu... que sonhou.
No sonho, descobria que dispunha da capacidade física de
subir nas árvores. Via-se ali debaixo do juazeiro enfolhado e, pelo seu tronco,
cuidava com isso de aproveitar as folhas verdes numa apetitosa refeição.
Instantes atrás, porém, Deus sentira dó do pobre vivente e
resolvera auxiliá-lo. Bem nessa hora, o bode acordou do sonho, na fiel certeza
de que vivenciava agora a realidade do sonho, e que podia, sim, subir em
árvore. Foi quando Deus lhe indagou se queria aprender a subir nas árvores.
Certo de que dispunha da tal capacidade, o bode respondeu ao
Criador que precisava não, que já tinha a habilidade ofertada.
Assim, naquele exato momento, perdera o caprino a rara chance
de aprender a subir em árvore e, nas horas difíceis, superar a fome, talento
que o Bom Deus disponibilizou na ocasião daquela necessidade.
Muitos de nós somos parecidos quando perdemos oportunidades
de saber, porque, convencidos na ilusão, fazemos de conta que sabemos. Gesto
mínimo de humildade é fator decisivo a quem quer adquirir a sabedoria verdadeira.
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