Até então, vivendo na fazenda dos meus avós, nunca soubera detalhes do jeito de devolver a matéria ao chão; noutras palavras, desconhecia o suplemento de viver que espera a todos logo ali no final da curva da existência. Aliás, sabia que os bichos morrem, lógico, pois via morrerem os carneiros, os animais de quintal, frangos, galinhas, que eram levados à força ao repasto das pessoas. No entanto ignorava por completo aonde terminavam os humanos, revelação vinda naquela tarde fria, em Crato.
Primeiro contato direto com o derradeiro ato deste plano, isso mexeu nas minhas imaginações. É tanto que ainda agora lembro e conto. Causou espécie ao juízo do menino que, talvez, desconfiasse tivesse vindo aqui e permanecer feito Azaverus, personagem de Machado de Assis, que não morreria jamais. Desde então pretendo me acostumar com a ideia da morte. Nos conventos, segundo consta das lendas, os religiosos adotavam usar crâneo envelhecido sobre os livros em que meditavam, isto na intenção de preservar em seus pensamento a imagem do que virá adiante, ao baixar o pano do espetáculo.
Muitos fazem de conta que não é consigo o drama dessa página conclusiva, e insistem nas paixões desenfreadas, nos distúrbios e nas festas. Quantas opiniões a respeito, do que poucos reconhecem inevitável. Existe até frase atribuída a um sábio que diz: Viva como se nunca fosse morrer, e morra como se não tivesse aqui vivido. Enquanto eu, sigo buscando compreender melhor esse assunto dogmático e certo.
Pois é, acho que é a melhor forma de enfrentar a idéia de que a morte existe. Li em algum lugar que o homem é o único ser racional que tem certeza da morte e consegue sorrir. Os animais morrem mas não sabem da existência da morte até que chegue a sua hora. Mas penso que não conheço ninguém que tenha 200 anos, tomo consciência de que ninguém é eterno e até acho que seria monótono saber que viveria para sempre. Enquanto isso vamos sorrir, vamos amar e viver como se não houvesse amanhã. Então é isso, viver o hoje, o passado não volta, o futuro não conheço, o que tenho é o presente, um presente de Deus, a vida. Vivamos entao em toda sua plenitude.
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