No carinho do desencanto, ali fixam moradia, religiosos da enorme solidão. Viverão a orar, no pressuposto de chegar ainda além do que quiseram, ao deixar de lado as vidas comuns. Houve um tempo em que isso acontecia nos mosteiros, conventos, monastérios de lugares inalcançáveis. Lançavam dardos aos alvos da transcendência, e desvaliam quaisquer possibilidades quanto a vaidades, aparências, contravenções.
Nisto, cabe perguntar onde adquirem tamanha certeza do mistério de Si mesmos, a ponto de tudo abandonar, à busca da Perfeição através, única e somente, por meio da consciência? Vagueiam no rumo certo do Infinito, na opção contrária da verdade conhecida, deixando de fora referências que a tantos significam favas contadas. Porém choram cedo e afundam os olhos na desistência deste lugar de ilusões, entregues na alma da religiosidade. Eles, os ermitões, anacoretas, reclusos, que viajam no universo de dentro, virtuosos rebeldes da matéria perecível.
O que nos causa espécie será esta coragem inexpugnável dos tais argonautas do espírito, a viver da renúncia dos modos físicos e aceitar a paixão do amor pelo eterno. Soldados doutro exército, representam a conclusão de muitas vidas, em gesto de prudência e sabedoria. Anônimos da ausência, somem dos turbilhões sociais e entregam aos ermos afastados o que a tantos seria imprudência, desespero. Modos de alucinados sem causa, testemunham, num gesto extremo, o que só as borboletas, no se imolar aos faróis que iluminam a escuridão. Projetam o ser lá no abismo profundo da luz intensa, e desaparecem no sol da convicção em claridade.
Heróis da solidão sempre existirão. Não tenho medo da solidão. Acho até que às vezes é necessária. Leva-nós a pensar, refletir melhor o que vemos e vivemos é que só em um momento de introspecção podemos ver melhor, com os olhos da alma e do coração.para isto que serve a solidão. É neste campo não existem heróis, em sua essência, existem sofredores.
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