No momento, quando todos gargalhavam com desempenho magistral, dentro dele fervilhava a mais pungente amargura e desciam lavas amargas de dor disfarçadas com maestria pela máscara que lhe cobria o rosto banhado de lágrimas.
Enquanto alegria sem igual naquela hora contagiava o distinto público, no peito do homem ardia crise sem precedentes, no propósito de quem conduz vida, produz emoções nos outros lá fora.
A situação descrita, mudando o que merece mudar, caberia feita luva na circunstância que se verificou em Crato, no Espaço Navegarte e assistíamos a uma apresentação musical.
Lá no palco, o cantor pernambucano Geraldo Azevedo, voz e violão, oferecia a numerosa plateia bela música. Aplausos efusivos animavam o lugar, evidenciando, nos flashs dos fotógrafos, o bom acontecimento.
Duas ou três canções antes do término da cena, porém, nas falas com que ilustrava os intervalos das canções, o músico comunica aos presentes que, na véspera daquela data, ocorrera a passagem de sua genitora desta vida para a outra, pondo-se, logo depois, a interpretar uma composição de autoria dela, refletindo na voz o sentimento que se pode imaginar de filho em situação semelhante.
Ao lembrar os detalhes disso, nos vemos emocionado, a refletir quanto à condição dos artistas e sua proximidade com multidões desconhecidas, vínculos que se estabelecem no decorrer da existência coletiva. Enquanto dentro de si lhes sacodem coração macerado pela imprevisão dolorosa, repassam, igualmente, a imagem de quem habita condomínios da mais pura felicidade.
Missão semelhante, a exemplo do palhaço de que falamos no início, uns dançam, riem, se divertem. Outros padecem, representam, dissimulam. De íntimo transtornado pelos ardores do sofrimento de perder a mãe querida, o músico prosseguiu com a função até o fim, debulhando versos e notas, na batida intensa do expressivo violão solitário, ausente das convenções deste mundo. Isso tudo em nome do amor ao sonho da arte, herói sobranceiro da magna inspiração, porquanto o show haverá sempre de manter o curso dos corações em festa.
Bela crônica! Abs. do Zé.
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