domingo, 9 de outubro de 2016

As ausências e o tempo

Isso de gostar dos objetos, das pessoas e dos lugares alimenta o desejo incontido da perpetuação dos indivíduos. Eis assim uma afirmação aparentemente trágica, porquanto ninguém aqui permanecerá além do triturar das moendas da Eternidade que nunca recolherão seus tentáculos. Trágica, contudo pura e verdadeira. Quem, de alma em punho, fugiria dos anseios de fixar o que transcorre perante nossas vistas sem, contudo, obter o mínimo êxito. Suster do desespero as ausências; amar as saudades vertiginosas, incandescentes; nutrir o senso de seguir sozinho, mesmo que todo o Universo conspire e destrua com suas garras de destinos.


Quantos amam e sabem da fragilidade desses momentos do amor... Quantos... De sentimentos acesos no apego, oram pela permanência, ainda que cientes da transitoriedade dos objetos, pessoas e lugares. Qual tremor frio das madrugadas, cessam rápido nos fulgores do alvorecer. Tinta de cores inimagináveis os sonhos da noite, e rompem o dia no auge das circunstâncias. Deixam cair cortinas de escuridão e desnudam a velocidade infalível do presente.

Entretanto amar quer persistir, ainda que ofereça apenas a transformação do momento em nuvens evanescentes. Amar, essa força poderosa de conter a solidão durante algumas e poucas frações infinitesimais, transação solitária equivalente a morrer nas praias da Perfeição. Amar, a luz de todos os verbos conjugados à porta da Felicidade.

Quando a pulsão de mudar é maior que a de permanecer, a gente muda, isto no dizer de Sigmund Freud. Um querer semelhante a mudar de trilha e achar dentro de si próprio o mistério dos sonhos. Animar a permanência de viver e a renunciar todas as ausências e amar desesperadamente os sabores da real sobrevivência do Ser.

No exótico ritmo da salvação, a herança restará do íntimo do desejo de todos, afeitos, no entanto, ao poder nascido de querer sempre e sincero. Sofrer a saudade e jamais desistir de amar.

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