No dia 27 de julho de 1889, em Natal, Rio Grande do Norte, falecia o sacerdote católico Antônio Francisco Arêas Junior, Padre Arêas. Nascido na mesma cidade, no ano de 1835, fora suspenso de ordem por conta de sua vinculação à Maçonaria. Filho de Antônio Francisco Arêas e Inácia Genoveva Arêas, exercera o vicariato em freguesias de Pernambuco e da Paraíba. Dentre outros ofícios, destacara-se como escritor, poeta, político e deputado provincial, isso em meados de 1860.
De temperamento bem característico, era, no dizer de Luís da Câmara Cascudo, de estatura baixa, forte, robusto, impulsivo, orador.. Fizera-se respeitar através de verso satírico infatigável e de rima brincalhona.
Conta Gutemberg Costa, no livro O riso de batina, um episódio típico a propósito do Padre Arêas, também conhecido por nunca levar desaforo pra casa. Certa feita, celebrava uma missa na Igreja do Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira, em Natal, quando um popular afoito resolveu entrar e soltar inoportuno buscapé bem no meio da ala feminina do templo.
Formou-se, então, dos mais desencontrados tumultos, dificultando sobremaneira a continuação do cerimonial. Gritos. Correria. Mulheres em polvorosa, aperreadas com as saias em risco, face ao infortunoso artefato que ágil corria no recinto, estabelecendo situação das mais apreensivas.
Nessa hora, o padre, que, arrebatado, desenvolvia belo sermão, suspendeu sua oratória. Vestido nos paramentos da ocasião, numa pressa desembalada, perseguiu o responsável pelo ato pecaminoso. Rua acima, rua abaixo, pega-não-pega, chegou junto dele quando no cruzamento das ruas Ferreira Chaves e Frei Miguelinho, segundo conta Cascudo.
Firme sustentou o meliante e desceu a ripa. Socos e murros exemplares. Aplicou-lhe disciplina de causar espanto naqueles que olhavam admirados o quadro (padre Áreas, de trajes eclesiais, a surrar um homem, no pleno da luz do dia).
Terminada a lição memorável, ele voltou no mesmo passo. Sem haver perdido o fio da meada, no púlpito, calmo, prosseguiu suas palavras de onde deixara, nada se esquecendo do que antes dizia. O andamento da missa pareceu que nenhum intervalo estabelecera.
Inclusive, fala Gutemberg no seu livro, que o responsável pela presepada nunca, dali em diante, nem de longe pensou em vir ao bairro da Ribeira, temendo dar de cara com o sacerdote naquela valente disposição.
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