quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Indecisos cordões

Aonde seguem as multidões amestradas que ainda buscam saber dos profetas adormecidos? O tanto que falaram e tudo aquilo virou matéria insuficiente. Quem agora comanda o trem da história no nível das realizações humanas, ninguém sabe, ninguém conhece, ninguém... Quem pranteia os jovens pobres mortos nas periferias entontecidas, ninguém dar de conta. Massa indolente de possuidores de fuscas vaga solta nas avenidas, apressados viandantes, enovelados na própria inutilidade. Ninguém sabe ou conhece quem, ninguém, alguém que fosse.


Por isso as palavras soltas ao vento viraram desejo enorme de que assim todos pudessem ser irmãos. Contudo há drogados, viciados nas bocas, no traste de perder tempo, na corrupção, na discórdia, no pouco caso e nenhuma imaginação . Eles não são felizes, entretanto. Eles também não são alegres, igualmente. Fazem algazarra nas praças, porém sofrem dores atrozes, as dores da impermanência, que passa numa velocidade estúpida. Contar o quê, indagam contrafeitos diante dos objetos. Maquinam saídas inexistentes e perdem o derradeiro trem da história noite adentro.

Espontâneos perdidos diante do inevitável, entregam o corpo ao carrasco do destino e nutrem a fome descomunal de (quem sabe?) revelar o mistério da consciência nas lajes dos túmulos vazios. Quisessem e talvez descobrissem as portas da Eternidade. No entanto, padecem da impaciência e da fome do prazer irresponsável; vendem a alma no mercado negro da ilusão a qualquer preço de banana podre. Deixam fugir de si as oportunidades e os valores, e caem de bruços faces nos açougues do egoísmo idiota. 

E os indecisos cordões, de quem falava Vandré, deslizam soltos sobre a mata de cimento e escorregam perigosamente na lama do asfalto. As vontades das transformações as esqueceram nas mesas de bar e nos becos da miséria moral. Largaram fora o amor em troca de gozos estéreis animalescos. Tontos barcos de esquadras fantasmas, arrastam pela sarjeta imunda horas mortas e a perdição enlatada.

Bom, mas admitir todos iguais significaria, pois, total ausência de equilíbrio, o que negaria as forças justas da Natureza e pediria melhor compreensão dos que mostram a mais pura das verdades, a sonhada luz da Salvação.

(Ilustração: Joan Miró).

(Ilustração: Joan Miró).

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