quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Alguma coisa acontece no meu coração - Janaína Lacerda


O sensível é tão assim, né? E a música, a música é tão coisada quanto. Sempre acho que as palavras não dão conta do que até a gente às vezes deixa escapar. Eu tava agorinha ouvindo aquele programa na rádio, que Arthur tem toda quinta, e lembrei de ti, de novo, mas lembrei primeiro do Cariri, com uma canção que Xangai tava cantando, mas que eu acho que nem é dele, aquela que diz assim macambira morre, xique-xique seca, juriti se muda, e me lembrou o Cariri porque acho que essa música gosta de ser tocada na ExpoCrato, aquela festa agropecuária que é o evento da cidade, e já sinto o friozinho, o cheiro, já vejo o povo, tô meio nostálgica esses últimos dias ou foi a viagem ao Crato que fiz? Ou foi a música? Sempre acho que foi a música. Mas,voltando,lembrei de ti porque há uns quatro meses atrás eu tava ouvindo essa mesma rádio enquanto a gente decidia se dava um tempo ou não, ou sim, ou terminava logo, ou se eu ia pra São Paulo contigo (sempre lembro daquela de Belchior também, mas a mulher que eu amei não pode me seguir), e aí eu, na minha frieza, vã tentativa de fingir que não dói, compartilhei com Clara que eu nem tava tão triste com tudo isso (ô desnecessidade de não sofrer, Arthur sempre diz que tem que ter um momento pra sofrer...), e aí tocou aquela música de Dominguinhos,chora sanfona sentida, e meu coração se apertou todo e ficou murchinho, logo aquela que a gente ouviu em tantas ocasiões e que eu sempre botava pra tocar pra te ter mais perto de mim, chora sanfona sentida em meu peito gemendo vai machucando e meu peito de amor vai morrendo, e a música vinha até mim descrevendo o que tava acontecendo por dentro e me deixando ali, sentindo aquela dor e fazendo eu mentir sem querer, pra Clara. 

Foi a segunda vez que me lembro de ter expressado algo e sentido um outro algo mais forte por dentro me contradizendo. Nunca esqueci de uma memória de infância, na qual meu pai viajava pra um lugar qualquer, coisa pouco costumeira, e eu de dentro do banheiro gritava pra mãinha, que tava a assistir televisão na sala, nem tô com saudades de painho, e assim que eu disse um nó se fez na minha garganta, trazendo à tona toda a saudade que eu sentia. Quase como se tivesse tocado aquela música.

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