terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Evangelho de Hipólito

Acho que devido ao afã habitual de encontrar novidades literárias pelos cantos deste mundo, certa noite sonhei com livros, o que narro, agora, aos que leem estas páginas.

Em gesto de compreensão fácil para os que gostam de revirar estantes, entrara numa farta livraria, passando a circular entre gôndolas e prateleiras, na ânsia inesgotável de localizar autores raros e obras fora de mercado, atitude mineradora e até neurótica, dos que esperam descobrir a pedra mágica do livro perfeito, bem ao gosto dos ratos de livraria. Pé ante pé, olhos alertas, eu refazia o mesmo percurso no exame detalhado de lombos e capas, repetido vezes infinitas.

Foi o tempo do sonho mais do que suficiente a separar alguns exemplares, quais peixes melhores da rede de arrasto imaginária. Daí, segui ao caixa.

O funcionário que atendia junto da máquina registradora conferiu os títulos escolhidos, indagando sem cerimônia:

- Por que vai deixando de lado o melhor que temos no estoque?

Curiosidade despertada e logo veio o interesse de saber qual essa tal preciosidade que ficara atrás. Nisto, o mesmo senhor se apressa em indicar uma encadernação modesta, já amarelada, próxima dali, onde li de letras graúdas o título O Evangelho de Hipólito.

Visto o acontecido, resolvo mudar de opinião, substituindo algumas das preferências e adquirindo também aquele livro. Depois, saio da loja na deriva de outros sonhos.

Pela manhã, desperto, recordei com clareza de detalhes tudo o que acima transmiti. Porém algo me intrigava: O Evangelho de Hipólito; nunca antes conhecera obra com esse teor. Sei dos quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João. Registram-se acréscimos históricos nos evangelhos ditos apócrifos, calculados na casa dos cinquenta. (Seria um deles o de Hipólito?). 

E o tempo passou nos compromissos da rotina, onde cada dia se basta às suas preocupações. Quando, em noite posterior, ao dirigir uma reunião, meus olhos se detiveram no livro sobre a mesa, O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Acendeu-me na lembrança o episódio do sonho. Então interpretei a charada e sintonizei que fora esse o livro que manuseara naquela livraria, naquela sonho.

Pois só nessa hora liguei os significados de Allan Kardec ser o pseudônimo usado pelo professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail, nome que adotara no compromisso de codificar a Doutrina dos Espíritos, missão recebida do Espírito da Verdade, conforme assegurara no decorrer dos seus escritos.

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