Havia, nesse recomeço, algo semelhante à história evangélica do filho pródigo chegando de volta ao lar paterno.
Viera no meio da noite à porta principal da casa, que abririam de par as cavernas da saudade. Abraços calorosos lhe receberam na festa do regresso, pondo todos em polvorosa, acordando os irmãos mais novos nunca imaginados que houvesse da parte do que sumira nas estradas. Reminiscências. Aventuras valorizadas. Longas conversas, da madrugada à barra do dia.
O lugar atualizava, no vento as manhãs alegres, dentro das orelhas frias, na ponta do nariz, nos olhos insones... Dormira nada, deixava o sono para conciliar de tarde, pela calma de tanta excitação.
Viu nas primeiras réstias de sol na telha motivos de sobra suficientes de saltar da cama só no dia seguinte, quando avistou o curral. Andou dolente a ler na consciência o campo cinzento fosco da redondeza. As casas de taipa dos mesmos moradores, o brejo, o açude, árvores destacadas no desenho maior, menores, indo recortar a paisagem no horizonte avermelhado. Deteve-o a silhueta inconfundível de dois vaqueiros ordenhando o gado, na orla do chiqueiro da criação.
Pessoas em movimento ecoavam a lembranças do riso engraçado das mocinhas. Notou, por trás da cerca do quintal, um dos empregados puxando carneiro gordo ao tronco da cajazeira secular, sob a qual arrumavam prato de barro, fogo aceso e facões. Os atos denunciavam a condenação próxima do animal.
- O que farão com esse bicho? – perguntou agoniado, querendo reverter a tempo a execução do carneiro.
- Vamos abater para comemorar sua volta – logo respondeu o caboclo.
Demorou quase nada pensando, e entrou casa adentro na procura da velha mãe. Ao vê-la, chegou dizendo que o animal culpa nenhuma tinha de ele regressar.
- Em lugar de matar o carneiro, mãe, por que não cuida de lhe dar só uma pisa boa, caso queira dividir com ele a responsabilidade desses meus procedimentos?
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