No bojo daquele DC-3, avião de dois motores e 28 passageiros, da Real Transportes Aéreos, se revelava o toque brejeiro característico dos representantes de algumas comunas do sertão; falar carregado, roupas peculiares, tipos exóticos, vozes e risos às vezes interrompidos pelo atendimento educado das belas aeromoças, que procuravam neutralizar a ansiedade do voo com alimentos e falas. Desse jeito, tudo transcorrera sem maiores imprevistos na jornada.
À aproximação do aeroporto de Salvador, o serviço de som anunciou as recomendações de ofício, apertar cinto e não fumar, seguidas de informações do clima local, etc., e a praxe dos agradecimentos pela preferência, formalidades dessas ocasiões.
Tão logo o avião tocava o solo já se posicionando ao desembarque, nos derradeiros movimentos de pista, um dos prefeitos, senhor gordo, de barba, pança avantajada, terno de listras, gravata borboleta, sensível às amabilidades de bordo, juízo temperado nos goles a mais de alguma bebida forte, ocupou espaço entre as poltronas iniciais, chamou a atenção dos demais, daí desfiou toda eloquência aprimorada nos palanques de campanha:
- Em nome do povo de Brejões – as palavras que lhe saíam em tom emocionado, e prosseguiu durante longos minutos: - Quero aqui homenagear essa heróica empresa nacional da aviação civil, visto o modo ordeiro como sabe conduzir a nossa gente pelos dos céus do meu País.
Nesse passo, sapecou adiante improviso que duraria perto de meia hora, suportada no calor, pelos presentes resignados, enquanto, surpresa, a tripulação cuidava de tranquilizar o pessoal em terra, que só depois saberia o motivo de tanta demora na desocupação da aeronave.
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