quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A sangue frio

Depois do que houve na Argentina, com as sucessivas desvalorizações do peso em relação ao dólar, ocasionando empobrecimento generalizado e desmantelamento político e social no país, vê-se o quanto ficaram vulneráveis as economias ditas emergentes. Nesse passo inflacionário galopante, os povos periféricos do mundo ora defrontam crise inimaginável, de conseqüências imprevisíveis. 

Primeiro, o sistema financeiro criou fórmulas especializadas de fixar padrões monetários, estabilizar preços internos, nas economias nacionais. Incerto passa o tempo nas frias madrugadas de metrópoles distantes, o que aciona mecanismos especulativos e derruba a paridade conseguida aos custos inestimáveis da credulidade, junto das populações ingênuas. 

Nisso, a sociedade dominada absorve como pode, ou não pode, as perversas desvalorizações, cobrindo os prejuízos com a poupança pública, adquirida em duras penas. E os bruxos comandantes crescem suas injustas monumentais riquezas, arrecadadas nos juros do sacrifício da massa humana.

No Brasil, a coisa acontece dentro dos mesmos padrões internacionais. Criou-se o Plano Real, no início do primeiro governo neoliberal Henrique Cardoso. Fixados valores, desestimulada a espiral inflacionária e o povo recebeu a gosto os tempos novos de dourados sonhos. Adiante, ocorreu a primeira queda na relação real x dólar, ainda no clima da reeleição presidencial. Sofrimento. Apreensões. Desgaste. Acomodação. Além disso, há calma nos mercados. Esperanças revividas. Todavia a memória de longo prazo funciona pouco na história brasileira. 

Chegou a próxima eleição federal. Movimentos incertos na geopolítica e toca a crescer o risco-Brasil, índice moderno para medir o desinteresse de investidores anônimos em aplicar aqui os seus capitais flutuantes, numa fisiologia sutil de sacrificar as nações na busca faminta de lucros fáceis. 

Pressões sem tamanho desnorteiam o aperfeiçoamento democrático desses estados periféricos. A qualquer surto de independência, os países de economia forte lhes constrangem baixar a crista, por meio dos mecanismos atuais de colonização. Práticas legais, mas ilegítimas.

Longe, na base da pirâmide, lavados pela inconsciência de condições alienadas, desinformados aos milhões, seres arrastam os pés calejados nas flores silvestres da impotência, vítimas dos operadores da máquina. Tudo submetido à sofisticação dos meios modernos, onde quase nada foge do controle. Aumentam gasolina, pão, arroz, contam, bem cedo, as letras maiores dos jornais.

Enquanto isso, no tropel dos quatro cavaleiros, o Grande Irmão olha nos nossos olhos, ouve nossos gemidos, sente nossos sentimentos, amam nossos amores. Autor de crimes elogiados, desfila em tanques abertos nas avenidas principais. Só faltava agora iniciar guerra com data marcada e invadir outros povos.

No entanto, a cada habitante da Terra só comporta o dote moral, honesto, otimista, de trabalhar até ser feliz, porquanto, acima dessas coisinhas miúdas, passageiras, existem a ordem universal e o Poder infinito da mais soberana Justiça. Somos condenados a ser livres, pois. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário