domingo, 26 de janeiro de 2014

Às turras com o destino

Desde cedo que percebera de que iria viver drama idêntico ao que fizera outros viver, pois há muito lhe disseram ser a forma com que a justiça natural promove o aprimoramento das criaturas nesse infindo universo.

Contudo jamais imaginou viesse dentro de tanta intensidade a ponto de deixá-lo perdido quanto aos próximos passos. Até a lição de que, na dúvida, cumpra a pauta mínima que existe frente às horas, balanço de si quando buscou amenizar a dor da angústia. No íntimo do coração, ela desestruturou todos seus planos. Amor inabalável sempre sentiu, nunca constando defrontar situação tão diferente. 

Depois daquele escuro, a única coisa com que passara a contar de certeza seriam mágoas espasmódicas, reveladoras de instintos que desconhecia. Qual ferido de morte por punhal enterrado no tórax, cambalearia noites e dias destituído de planos que mostrassem como escapar do destino, que lhe toldava os pensamentos, sentimentos e sonhos.

Desde então vem assim acontecendo. Momentos se alternam, ora cinzentos, amargosos, tristes, ora delirantes de esperança por conta de possíveis mudanças de rumo no coração do lado de lá onde alimentou harmonia conjugal.

Até o I Ching, consultas a médium amiga, livros, leituras apaziguadoras da alma desesperada através das religiões que fomentam renúncia, conformação, perdão, exclusão pelo silêncio da mente, de tudo vem nutrindo de ânimo as condições claudicantes na dor do desprezo, da alienação e do desânimo. 

Quanto sofrimento, quanta lágrima derramada no desamor evidente na realidade. Esperar por quem não prometeu vir e ainda insiste desfechar o amor que fincara raízes no solo pleno da incerteza.

Esses instantes de aflição levaram buscar Deus e perguntar onde Ele vive, como vê-Lo e sentir Seus sinais. Reclama do gosto antigo que lhe rasgava as entranhas fervilhando agora apreensões. Anda, nos fins de tarde, na intenção de firmar o corpo forçado, engole alimentação e cápsulas de vitaminas, enquanto o coração pulsa normal, apesar de insistir que os mistérios da natureza invadiram de transe os subúrbios da alma insone. Correr, gritar, chorar, pedir, implorar, nenhuma atitudes significaria coisa alguma. Para consigo, olhos postos no tempo que fervilha nos átomos impacientes, espreita os desdobramentos quando tudo acabar, pois sabe que essa fase chega e acaba. Aloja o si nas sombras do itinerário, a preservar o restou da dignidade e responde aos compromissos vulgares, quer chova ou brilhe o Sol.

Aprendeu nos dois meses recentes o que a vida inteira não ensinara antes. Permanece vivo e chega, às vezes, a sorrir, o que espanta face de tanto infortúnio. Exercita a paciência, a calma e ama, num amor desmesurado, desconhecido, forte como a morte. Busca substituir o sentimento de inutilidade que cresceu no horizonte, convicção de que atravessará esse torpor e viverá dias melhores e felizes, reação contra o aparente destino que revelou jeito adverso. E desistir não consta do repertório das promessas. 

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