quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Confederação dos Cariris

Qualquer distanciamento, através das cavernas da imaginação, propicia considerar o clima reinante no meio dos nativos das terras brasileiras com a presença intrusa do europeu, que desembarcara a fim de ocupar o território e usurpar, dentre outros bens, a liberdade original em sua natureza virgem e ameaçar a sobrevivência pela força de armas desconhecidas. Trabucos que soltavam faíscas pela boca, lâminas amoladas e o brilho das armaduras metálicas, senhores de baraço e cutelo, sequiosos de riqueza e poder.

Porém a coisa não se deu conforme pensado. 

Há capítulos heróicos, insanos, que demonstram se tratar de gentes corajosas e treinadas, as tribos dos antigos habitantes donos naturais destes lugares em que hoje correm os dramas da civilização mercantil daqueles tempos.

Duas extremas reações, denominadas Confederação dos Tamoios e Confederação dos Cariris, impuseram baixas e medo aos colonizadores, durante décadas. A segunda, também chamada Guerra dos Bárbaros, aconteceu no sertão nordestino, entre Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba, quando indígenas de tribos diversas se aliaram para expulsar os invasores, isso durante 30 longos anos.

Em face do terror e da arbitrariedade impostos pelos portugueses, lá pelo ano de 1686 os índios Janduins, vivendo nos pagos de Açu, Mossoró e Apodi, saíram dizimando populações estrangeiras e destruindo o que achavam nas suas posses.

Do Rio Grande do Norte, a revolta coletiva atingiu o vale do Jaguaribe, no Ceará, invadindo as capitanias de Pernambuco, Paraíba e Piauí, envolvendo as nações indígenas de Icós, Quixelôs, Canindés, Tremembés, Crateús, Jenipapos, Anacés, Acriús, etc. 

Em 1688, a dois anos do início dos combates, o governador-geral Frei Manuel da Ressurreição recorreria aos bandeirantes de São Paulo e São Vicente, exterminadores contumazes de selvagens, na intenção de enfrentar a resistência. Em apoio à participação das guarnições locais, vieram Domingo Jorge Velho, Matias Cardoso e João Amaro Maciel Parente, principiando o extermínio que representaria as piores atrocidades, nos palcos do Nordeste.

Nas lutas, em favor dos lusitanos lutaram índios domesticados, renegados das origens, costume trazido pelos brancos dominadores, que somavam aos combates degredados criminosos trazidos da Europa ao preço da anistia das penas. 

Os colonos, nisso, viveram tempos de incerteza, dificuldade vencida com a destruição dos bandos guerreiros. Em 1713, indígenas confederados atacariam Aquiraz, sede da capitania cearense, eliminando 200 pessoas, enquanto os demais habitantes fugiam para a fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, na foz do rio Pajeú. O ocorrido ocasionaria a transferência dos interesses para onde hoje ficou Fortaleza, a capital do Estado.

Em consequência, as tropas do coronel João de Barros Braga subiram de Jaguaribe até o litoral, em defesa de Aquiraz, na chamada Cavalaria do Certam, formada de mestiços e índios mansos, nos trajes de couro, pacificando sob o pretexto de uma guerra justa, exterminando os gentios e ferindo de morte os planos da Confederação dos Cariris. 


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