Em fazenda humilde das remotas planícies do Cáucaso, na velha Rússia,
exposta aos riscos de uma vida afastada e rude, habitava família de pastores,
pai, mãe e quatro filhos, três mulheres e apenas um homem, a lutar quais
guerreiros para descobrir formas de sobreviver. Nessa peleja, mantinham
rebanhos de ovelhas e cultivavam o solo.
Um dia, chegou à região manada de cavalos selvagens, animais
imprevisíveis que surgiam do mundo estranho das florestas e desapareciam do
jeito que chegaram, livres e sem dono, soltos pelas vastidões oceânicas,
fugindo da aproximação de qualquer ente humano.
Corajoso, no entanto, o filho lançou-se na busca de prender esses bichos
bravios, indo conseguir depois de muitos esforços, detendo-os ao cercado existente
junto da casa onde moravam.
- Rapaz de sorte o teu filho, ainda na flor da idade e já adquiriu
riqueza - comentou vizinho, a observar, na companhia do pai, as atividades do
moço no curral a domar o rebanho que espanava impaciente pelos gritos e chicotadas
do trabalho bem difícil.
- Isso é o
que hoje a gente pode ver - respondeu pausado e cauteloso o pai, que também
admirava as iniciativas do filho querendo amansar os cavalos inquietos. – Pode
ser, ou não, essa boa sorte dele - completou.
Passadas algumas semanas, quando apareciam os frutos iniciais da
custosa tarefa, o jovem se viu arrebatado pela fúria de um dos animais, que lhe
jogou ao chão, indo, na queda violenta fraturar com gravidade o turno superior
de uma das pernas, prostrando-se ao leito longas semanas.
- Lembro agora o que disseste daquela vez - recordou o vizinho,
enquanto visitava o doente e a família abalada pelo acontecimento,
acrescentando: - Na verdade, o que poderia ser boa fortuna tornou-se perda para
teu filho, meu amigo. Com isso, também sofro contigo!
Sem muitas palavras a dizer, o pai, tristonho, respondeu: - Não é assim
que analiso as circunstâncias, não. O que sucedeu pode ser de bom alvitre, todavia.
Entrementes, alguns meses transcorridos e sérios conflitos explodiram
na fronteira, com povos em litígio motivando guerra descomunal, à qual foram
levados aqueles viventes do campo russo.
O sossego do lugar amargou período brutal. Gastos imensos. Tributos
pesados. Os jovens engajaram nas tropas, dentre eles os amigos do domador de
cavalos, que persistiu ainda meses inválido, face do acidente, a ponto de só
ele de sua geração ficar de fora das escaramuças.
Não tardou e, de novo, se ouviu, entre os dois vizinhos, outras
considerações quanto ao jovem: - Ah! Disseram bem tuas palavras de que aquilo
tudo traria a sorte do teu filho.
Ensimesmado, olhos acesos e semblante pensativo, o pai permaneceu
envolvo no silêncio, sem externar o que lhe dominava o coração, deixando o
próprio tempo contar ao amigo da sabedoria infinita do Destino.
Que maravilhosa leitura. Mais uma vez grato.
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