terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Rebanhos dizimados


Sei que a Natureza possui leis justas; algumas vezes, duras, porém justas, inquestionáveis. Leis que exigem adaptação e obediência; e que obedecê-las representa norma de sabedoria na evolução dos modos de viver no movimento das atividades humanas.

Tais avaliações significam a obrigação para fazer a leitura correta das estiagens recentes nas chuvas do Nordeste brasileiro, reduzidas que foram a padrões inferiores, até dizimando parte da criação do gado bovino, de si já diferenciado e restrito a raças fortes, indubrasil, zebu, mestiça, quase só espécies aclimatadas aqui desenvolvidas. No entanto, dessa vez, impossível de resistir aos resultados impiedosos ocasionados após a soma dos sucessivos estios de épocas consecutivas.

Esses índices pluviométricos caracterizaram outra das denominadas secas verdes em anos interligados, trazendo pouca água aos reservatórios, afetando a produção agrícola e eliminando os pastos, longe dos períodos fartos das fases decantadas pelos poetas e trovadores populares noutras horas.

A realidade dos três derradeiros anos culminou, nesse ano de 2012, em calamidade que trouxe à memória o ano de 1958, de triste recordação, quando os rebanhos do centro-sul de nosso Estado praticamente se viram eliminados sob a inclemência da ausência das chuvas. Vítimas da escassez do líquido precioso e do alimento, reses morreram abandonadas ao relento das vastidões ensolaradas e impessoais, mostradas em páginas do cancioneiro nordestino, a exemplo de Luiz Gonzaga, na canção Jesus Sertanejo: Na serra, nos campos / Ai desencanto que a gente tem / E o vento, que sopra, ressoa / Ai sequidão que traz desolação, uma letra impecável de Janduhy Filizola.  

De dezembro a fevereiro, os viajantes que percorreram municípios do sertão, do Ceará e de outros estados vitimados pela calamidade, testemunharam o quadro dantesco das carcaças viradas em couro e ossos, restos que minguavam as prendas valiosas dos moradores da zona rural. Houve fazendeiro de perder algo por volta de 20 animais num único dia de penúria, na quadra adversa da seda dos seus queridos rebanhos.

A reflexão que sobra qual lição: Encontrar onde tudo identifica a linguagem da Natureza, que representa o quanto ainda necessitamos conhecer da vocação do território da caatinga, no semi-árido, ora desabitado e virgem das soluções indicadas pelos meios oferecidos aos habitantes, séculos depois de exploração e frutos limitados a vozes do clima característico desta área geográfica.  

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