1977 em Crato. Segunda
quinzena de dezembro. Fagner fizera apresentação na Quadra Bicentenário, em
show que ajudamos a promover, época posterior ao seu disco Manera, Fru Fru, Manera, trazido pelo empresário Francis Valle, nosso
amigo. Com ele vieram Afonsinho, Amelinha, Wiron Batista e mais duas pessoas
das quais não recordo os nomes. Permaneceram no Cariri quatro ou cinco dias. Organizamos
um futebol no Itaytera Clube, num sábado à tarde, com a participação de
Afonsinho, Fagner e Zé Luiz Penna, outro artista que também estava aqui na
ocasião, hoje deputado federal e presidente do Partido Verde. Passearam em
Juazeiro do Norte. E eu os receberia na casa de meus pais durante o período que
demoraram na região.
Pude, então, conhecer
de perto Afonsinho (Afonso Celso Garcia Reis), atleta do futebol que ganhara a
mídia nacional por se rebelar contra a situação do profissional jogador de futebol
submetido a empresários e dirigentes, obtendo na Justiça o direito ao passe livre, de que foi o primeiro detentor,
instituição sob cujo nome o cineasta Oswaldo Caldera realizara, em 1974, filme
longa-metragem documentando o feito, que circulava as salas do cinema engajado
pelo Brasil afora.
Figura ligada também à
música popular, vinculado ao grupo dos cearenses da MPB, seria esse o motivo da
sua aproximação com Fagner, Francis e Amelinha, que lhe trouxeram ao Nordeste
naquele momento. Pessoa politizada, alegre, gostava de cantar samba, de trato
leve e amigo. Conversador, admirador da literatura e dos bons valores
culturais.
Daqui segui com eles a
Orós, residência dos pais de Fagner, onde permanecemos dois dias, com Wiron, um
dos filhos do industrial Eliseu Batista. Era véspera do Natal, que juntos comemoramos,
e, no dia seguinte, viajamos até Fortaleza, e ainda permaneci, poucos dias mais,
com o mesmo grupo.
Agora me voltam esses
fragmentos de memória depois de assistir, na televisão, a matéria extensa
quanto às relações que existiram entre o futebol e a política nos anos da ditadura
militar, citando inclusive o desempenho marcante de Afonsinho, que ergueu a
bandeira da autonomia profissional dos atletas em meio à repressão e aos conchavos
da corrupção no esporte e nos palácios. Era fase perversa, tempos da Operação
Condor, tristes idos que mancharam de sangue a história, com as alianças escusas
dos regimes ditatoriais da América Latina deixando rastro de dolorosas perdas.
Afonsinho chegou a
defender times conhecidos, quais Olaria, Botafogo, Flamengo, América de Minas,
Santos, Vasco da Gama, Fluminense e Madureira. Envergara a camisa do Botafogo
na segunda metade dos anos 60, e conquistara diversos títulos, tais o Campeonato
Carioca de 1967 e 68, e o Brasileiro de 1968.
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