Naquela manhã, o humilde pescador
saiu cedo a procurar sustento, dele e da esposa. Os dois viviam na penúria.
Moravam numa palhoça junto de bela praia, aonde o mar quase sempre trazia
numerosos cardumes de peixes deliciosos. Dessa vez, porém, a facilidade não se
repetia. Pescou horas e horas, sem nenhum resultado positivo. Quando quisera
desistir, peixe dourado, de tamanho insignificante, veio preso nas malhas da
rede que jogava. Muito pouco, no entanto, para suprir a fome do casal. Nisto,
ao segurar entre os dedos o pequenino peixe, uma voz inesperada se fez ouvir:
- Meu bondoso pescador, deixe que
eu permaneça vivo - as palavras saíam claras da boca do ser minúsculo. - Para
nada sirvo pelo pouco que tenho. E, além do mais, posso ser mais útil vivendo,
pois posso atender ao todo pedido que o senhor me fizer.
Aturdido com a inesperada
ocorrência, o pobre pescador quis comprovar aquela promessa que ouvia. Muitas histórias dão notícia de coisas assim
- ficou imaginando gênios e outras maravilhas, ao que deve haver uma razão de
existir. E um tanto temeroso, de imediato retrucou:
- Peixinho, me disponho a examinar
o que dizes. Por isso, primeiro, pedirei que quando eu chegar em casa encontre
a mesa posta com pratos dos melhores sabores. Caso atenda ao pedido, devolverei
a tua liberdade. Disse e fez prumo de voltar ao lar.
De longe, avistou sua mulher,
eufórica, acenando da porta de casa, lhe vindo ao encontro. Dizia que um rico
banquete os esperava na sala-de-jantar. Enquanto saboreava os manjares, o homem
foi contando o que se passara. Daí, trataram logo de preparar novo pedido.
Iriam morar no palácio mais bonito que houvesse na Terra.
Libertado o peixe, de acordo com a
palavra, este passou a servir com fidelidade e constância ao pescador e à sua
mulher, agora habitantes de um palácio de sonhos.
Na sequência do tempo, a mulher
pretendeu desfrutar da riqueza de uma rainha poderosa, sendo nisso também
atendida. Depois, quis ocupar o lugar de papa. O peixe, sem desobedecer, de
novo correspondeu à reivindicação que lhe fora apresentada.
Para quem antes vivia na miséria,
sob os cuidados daquele peixinho misterioso a existência deles se transformara
num paraíso. Todo o tempo do mundo era pouco para aproveitar bem os inúmeros
presentes recebidos. Notava-se nos dois até fastio pelo tanto de coisas que
ganhavam do bom amigo.
Belo dia, a mulher chegou para o
seu companheiro e lhe transmitiu mais outro dos seus desejos imaginosos. Dessa
vez superaria em exigência todas as vezes anteriores, pois ela queria, vejam
bem, ocupar a posição mais elevada que existe e desfrutar nada menos do que das
funções supremas do Criador do Universo.
No início, boquiaberto o marido
reagiu, pois, pelo equívoco do pedido, anteviu os resultados que sucederiam à
soberba da esposa. Porém não reuniu forças suficientes de lhe contrariar,
seguindo triste com o pedido em direção ao peixinho, no lugar habitual.
Chegou, esperou, esperou... Mas
nada de peixe. Tão só o mar silencioso respondia aos seus insistentes chamados.
Dessa vez, o pescador não voltaria mais a rever o servidor fiel. Cabisbaixo,
sem planos, na tarde cinzenta daquele dia, retornou à mesma casinha modesta do
início da história. Apesar de tudo, no entanto, provara do conceito antigo que
diz: Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário