terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Aguentar sofrer

Por si só somos a Eternidade... E pensar nisso é mera ilusão. Sustentar esses padrões de continuidade diante dos impasses de sentido nas peças que caem constantes das prateleiras da sorte, e sorrir definitivamente de olhos acesos na real felicidade, dia após dia, hora após hora de prêmios acumulados. Seguir na marcha batida dos condenados, porém soltos ao vento do prazer quais atores dos improvisos. Achar que levou a melhor durante o cerimonial da morte dos outros enquanto não chegava a própria morte, enganados de curto prazo a responder aos mesmos relatórios das casas de detenção.

Uns vestem as túnicas de sacerdotes, mestres do ritual da prestação de contas. Outros manuseiam os instrumentos de prolongar o desejo de pretensos contemplados na loteria do futuro que nunca virá vez que tudo é hoje e pronto. Mas, no fundo, bem no fundo, todos trajando os véus da ingenuidade artificial. Acreditam andar fora do sofrimento, que, no dizer de uma cigana, seja apenas aprendizado. Descobrir a porta de saída que permite sair os atores e tomarem café na praça esperando o momento de também serem executados na roleta da feira.

Se eu não aprender dessa vez não aprendo nunca mais, mas aprendo sim, porque logo na frente há um pelotão de fuzilamento aguardando a chegada dos retardatários, daqueles que se imaginam isentos de topar face a face com o drama das praças de execução. Porquanto o Universo inteiro gargalha nas nuvens da precisão dos mortais de lá desenvolver a decantada realização da paz nos corações.

Serão noites e noites de angústia, música, expectativa de tranquilidade no âmbito aberto dos sentimentos, vida longa aos seres que esperam localizar o milênio da paz na caverna dos encantos. Todos vêm e vão, vão e vêm, função espontânea das camas e muitas vidas sucessivas, à busca de cumprir o roteiro feliz da jornada em ritmo de silêncio e justiça para sempre.

(Ilustração: Pieter Bruegel, o Velho).

2 comentários:

  1. É meu amigo vendo a barbarie dos presídios do Brasil, fico pensando que se pode fazer para amenizar o sofrimento daquelas famílias que buscam em vão achar um corpo para aquela cabeça que ela nas mãos e fazer um enterro digno para aquele parente, filho ou marido. É nos. Achamos impotentes , assim como o governo que fica querendo transferir responsabilidade para fugir do desgaste pessoal por não haver sido proativo no controle do cri-me organizado que já chama para si a prevenção ser o quarto poder. Executivos legislativo judiciário e presidiários. Triste, muito triste...

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  2. Apreensões, amigo (a), de um só corpo de que temos às mãos a cabeça e o futuro.

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