sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A águia do mestre

Ele fugia desesperadamente. Bem perto dali, no seu encalço, vinha sedenta a guarda do sultão, que o perseguia na intenção de resgatar joias preciosas que retirara do tesouro do reinado. Através daquelas montanhas distantes as buscas pareciam chegar ao fim, pois adiante dos caminhos restavam tão só as bordas de abismos intransponíveis.


O infeliz meliante já notara as agruras inevitáveis da aproximação dos soldados, quando avistou, debaixo de árvore das imediações, na posição de lótus, um devoto recolhido em meditação silenciosa. Nem houve muito a pensar; dele se aproximou e, rompendo o culto do religioso, aflito indagou:

- Qual a águia de seu mestre, caro discípulo?

Entre surpreso e atencioso, o noviço respondeu:

- Que eu me lance daquele precipício sem titubear. E só assim cumprirei as exigências definitivas do meu superior para que obtenha a iluminação.

- Quer, então, permutar essa águia do seu mestre pelo que aqui contém esse pequeno tesouro de ricas peças e valor inestimável? - o visitante rápido tratava, com isso, de oferecer ao jovem, que ainda buscava reunir, sem sucesso no entanto, as forças de atender ao desafio recebido na sagrada devoção.

- Aceito, sim – admitiu.  

E antes quase nada de os guardas lançarem mãos do assaltante e fora das suas vistas, este joga ao noviço o fardo que consigo transportava. Em seguida, disparado, corre na direção do alto da montanha, lançando-se impetuosamente no vazio do mais profundo precipício.  

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