quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O muro

Na lombada do muro, deslizam incansáveis multidões. Visto de longe, há que se pensar nas longas estradas de mão dupla, sinalização, acostamento e tudo o mais que compõe as vias agitadas dos tempos dagora. Além disso, existem em cima do muro alojamentos, restaurantes, bares, mercantis, boates, cassinos e as tradicionais lojas de conveniência, onde, quando em vez, ocorrem paradas obrigatórias dos habitantes daquela parte de mundo. 

Uns já se conheciam de outras ocasiões; outros andam ansiosos por novos conhecimentos; são aglomerações, festividades, clubes, salas de projeção, dormitórios, inferninhos. Acontece que os passageiros do muro carecem de orientação, vagando adormecidos, desconhecendo o Caminho da Verdade. Vivem quais na embriaguez das ausências, fantasias, e nas ilusões, pois o palco das distrações nenhum meio oferece em termos reais e definitivos.

Linha viva, a lombada do muro indica percurso das jornadas terrenas individuais das criaturas humanas. Espécie de cidade estreita linear, contudo provisória, ativa e com pretensões de autossuficiência, semelhantes às estradas que cortam os territórios desse chão, que servem de motivo aos deslocamentos nas viagens da existência. 

Enquanto isso, de um dos lados, sem cessar, a Luz da Verdade persiste convidar os passageiros de cima do muro a descer e seguir o Caminho do Bem, conhecer a realidade que prevalecerá nas paragens do Infinito; do lado de lá, o gerente das ilusões e seus emissários trabalham, argumentam e demonstram, querendo manter a qualquer custo indivíduos só vagando na lombada do muro, espécies de zumbis sem rumo, sem sentido, resistentes em evitar os benefícios oferecidos pelo Bem.

Dentre aqueles, um dos indecisos avança e dirige insistentes palavras ao gerente das ilusões: 

- Que acha disso, desses chamamentos que vimos, com algum esforço, ignorando, de que sigamos o Bom Caminho? 

- Dizer o que, se o muro é meu? – convencido da função, assim ele responde.   

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