sábado, 13 de dezembro de 2014

Considerações familiares

No ano de 1901, dia e mês ainda para mim desconhecidos, numa das salas da residência do doutor Antônio de Alencar Araripe, na Praça da Sé, em Crato, reuniam-se os próceres locais do Partido Republicano com emissários vindos da Capital, caravana chefiada pelo então presidente da agremiação no Estado, o doutor Ildefonso Correia Lima, filho de Fideralina Augusto Lima e tio avô de meu pai. 

No decorrer daquela atividade, do lado de fora, adversários promoviam algazarra e hostilidades ao evento, adotando, inclusive, a prática de lançar fogos sem bomba, o que causava profundo desgosto nos republicanos. Ouvia-se tão só o rastilho dos cartuchos a se erguerem nos céus, desfeitos sem seus arruídos característicos.

Clima de extremo constrangimento cresceu entre todos. Meu bisavô materno, Joaquim Bezerra Monteiro, de 33 anos, achando-se à frente da solenidade, anfitrião na qualidade de presidente municipal do partido, se viu desfeiteado com a provocação; emocionando-se ao máximo, passou mal e sofreu, em consequência, colapso cardíaco que ali mesmo o fulminou.

Antônio Bezerra Monteiro, meu avô, à época desse acontecimento, perfazia três anos de vida, sendo ele e Ramiro Bezerra Monteiro os únicos filhos deixados por Joaquim Monteiro. Aos 19 anos, ficara viúva sua genitora, Maria Conceição Pinheiro Monteiro, filha de José Pinheiro Bezerra de Meneses (o Cel. Zeco dos Currais).  

Anos depois, minha bisavó Conceição, contrairia novas núpcias, dessa vez com José Fernandes Coimbra (Zezim Coimbra), de família juazeirense. Quando chegamos a Crato, inícios da década de 50, pude conhecê-los e algumas vezes visitá-los, na casa onde residiam, à Rua José Carvalho n.º 123, vizinha do prédio da Escola 18 de Maio, nome posterior da antiga União Artística Beneficente, estabelecimento onde minha mãe exerceu, no turno da noite, por vários anos, o mister de professora.    

Outro aspecto pode ser considerado nesse episódio: o doutor Ildefonso Correia Lima, em 1891, fora um dos três médicos que investigaram o fenômeno das hóstias ensanguentadas, verificado na segunda metade do século XIX, em Juazeiro do Norte, cujo laudo o bispo dom Joaquim José Vieira inseriu em uma das suas quatro cartas pastorais que consideraram o assunto. Opinara o médico pela veracidade da ocorrência, admitindo-a fisiológica e dentro das leis da natureza, registro constante do livro O Padre e a Beata, de Nertan Macedo. 

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