sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O sabor dos dias

Ao amigo Wellington Bringel.

Um sabor abstrato que os dias possuem com toda intensidade. Eles e tantos outros substantivos, pessoas, lugares, horas, meses, anos, objetos animados e inanimados, o que fala como verdades dentro dos pensamentos e sentimentos, espécies de seres vivos manifestados por vezes como causa das alterações na pulsação no coração das pessoas. 

Nesta tarde de sexta-feira de dezembro, por exemplo, ali há pouco deitado de papo pro ar repassava um tempo na memória quando trabalhara em Brejo Santo e era às sextas-feiras de tarde que vinha ao Crato a fim de rever a família e os amigos. De emoção ansiosa por demais, buscava o jeito das caronas e queria a todo custo chegar o quanto antes na cidade. Ir à tertúlia na AABB daquelas noites, passear pelas ruas e praças, sequioso dos momentos da semana ausente pela obrigação profissional, atitude dos que perderam o que não sabem em lugares onde que ignoram quais.


Repetidas ocasiões, esperava reencontrar o tempo perdido ao dobrar uma esquina, adentrar um cinema, uma livraria, sentar nos bancos das praças, mero empenho imaginário de perguntas impossíveis e respostas inexistentes. 

Dia seguinte, sábado, a nova chance de deparar com sonhadas quimeras sumidas nos porres da noite anterior, reunidas outra vez nas manhãs cratenses de inúmeras alternativas; Cascata, namorada, jornal, caminhadas pelo centro da cidade, porém ao rumo dos meios dias de tudo em vão... A morneira da tarde devoraria os programas apressados e aflitos, depois desfeitos doloridos nos finais de noite daqueles sábados desesperados.

No domingo, ah, meu Deus, cresciam nuvens escuras de esperanças diluídas nos transes de regressar ao trabalho o quanto antes de chegar, sem falta, bem no início do expediente da segunda-feira. Terça. Quarta. Quinta. Dias rentes, obrigações e saudade, poucas surpresas, raras notícias de tão perto e tão longe, naquela adolescência em queda livre. Sumidas oportunidades de aceitação das normas do tempo, senhor das razões da inteligência contestadas nos caprichos individuais dos que evitam amadurecer na idade, da responsabilidade.

Ainda assim, recordamos o gosto gostoso das tardes das sextas-feiras, de quando, nalgunas horas, os colegas comentavam chistosos: - Se a morte um dia quiser me levar, que isto só seja numa manhã de segunda-feira. 

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