segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A função da escrita

Fazia meses que não lia romance algum, quando me veio às mãos Pais e filhos, de Ivan Turgueniev, obra que descreve a vida no campo russo pelos fins do século passado, cheia das muitas contradições que, décadas depois, motivariam a Revolução Russa de 1917. Calcada em personagens bem caracterizados, numa trama de valores e emoções conduzida em um crescendo ao sabor da melhor ficção, o livro atende ao leitor mais exigente. 

Certa ocasião, em Salvador, numa aula do professor Cid Teixeira, ele entusiasta das boas letras, lhe perguntei qual função haveria no ato de ler, vez que, com o passar do tempo, ocorre de não nos recordarmos de detalhes mínimos, esquemas, locações das histórias, das palavras, esquecendo, em certos casos, até os títulos e autores.

Em resposta, ouviria que cultura é o que restará depois que todas essas coisas desaparecem da memória.

Aquela observação fez lembrar os caminhos que se formam nas matas virgens, ali por onde passam pessoas e animais amaciando o solo e afastando a vegetação, sem que, para isso, houvesse sentido prévio deliberado, resultado comparável ao que acontece no interior da mente humana, aprimorando os trilhos do conhecimento. 

A literatura de proveito funciona tal e qual, acostumado o espírito no hábito do que dignifica a alma; e quando menos espera haverá condensação de resultados favoráveis ao progresso, à formação moral, alçando as criaturas às novas possibilidades da evolução. Isso tudo facilitado pelo esforço próprio do pensar, estabelecido sobre textos lúcidos, ordenados, no afã de transmitir ideias e sentimentos.

Os que descobrem a galáxia de Gutenberg, expressão criada pelo canadense Marshall Mcluhan a fim de denominar o âmbito literário dos seres humanos, podem aumentar o universo de pesquisa e permitir as chances de encontrar a luz da verdadeira Consciência.          

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