segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A inevitabilidade do quanto existe


Antes de pensar que poder-se-ia existir, já se existe, pois. Diante do infinito dos acontecimentos vorazes, apenas isto, um furor de ondas no mar de fenômenos dos quais é-se parte inevitável, persistente. Nas luzes desse espaço de ocorrências, ali impera a força viva do que há pouco haveria de ter sido. Nuvens tenazes dessas histórias arrastam isso, numa força descomunal. O que nem sempre deveria ocorrer, mais que seja, portanto. Nesse diapasão de fragmentos, energia inevitável de milhões de outros destalhes, nisto a conjuração de letras e nomes que ora preenchem o rosto de quantos aspectos dos quais ninguém foge, e a isto rendem homenagem séculos sem fim.

Mesmo que sob o crivo das interrogações, ninguém possui o ditame da dúvida posta em movimento, porquanto, por maiores sejam os sentimentos, outro senso existe que não só rende graças ao mistério, mas faz dele sua razão ser... Sombras sucessivas que avançam no vácuo transformam o imaginário e, de hora a outra, somente da transformação significa o vazio ali deixado na volta em forma de realidade. Nalgum instante, por isso, as farpas do Destino imobilizam o clamor da multidão e fazem dela mera ficção.

A que fossem destinados os desejos, eles correspondem à quadra de todos os momentos, lista interminável das contingências feitas de pensamentos e palavras. Sobrevivem (quem sabe?) a novos sonhos, no entanto dispostos, agora, numa longa expectativa desfeita pelas folhas secas das novas estações. Dali que vêm os séculos, dispostos em longos rosários de crenças e possibilidades. Derramam as cores da imensidão no berço das criaturas, pequeninos seres dessa virtude sideral em queda livre que o somos. Sobem, descem, refazem nas alturas o sentido original de todas as vezes que agitam a tela do firmamento, e, logo adiante, mergulham, outra vez, no silêncio da solidão adormecida nos mesmos sóis das lutas e de uma paz até então imaginária. Constantes aspectos disso, de indagar a si próprio pela liberdade, contudo apoiam sobre o peito a vontade lá tão antiga de certa feita participar de todo nessa epopeia dos registros históricos inesquecíveis.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

Nenhum comentário:

Postar um comentário