A bem dizer, impossível de controlar a sequência dos momentos anteriores que regressam insistentes às lembranças vivas da atualidade. Quais vigilantes efetivos, tudo persegue a rever aquilo que o tempo arrastou e nos deixa vacilantes de compreender. Vez em quando, por exemplo, me vêm ocasiões da infância no Tatu, onde nasci e fiquei até os quatro anos. Retornávamos nas férias de julho, ao menos durante minha adolescência. Depois, quando comecei a gostar dos filmes que passavam nos cinemas do Crato, ia mais a fim de satisfazer minha mãe, que nunca esqueceu a época que lá vivera, nos inícios de nossa família.
E hoje, ao ler Perfis sertanejos, livro de José Carvalho,
no primeiro capítulo, quando conta a respeito de Inocêncio, um senhor que
conhecera na infância, que muito influenciara
na sua formação, me veio à memória um tipo sertanejo lá dessa fase no Tatu, Seu
João Preto, dos agregados de meu avô.
Dos moradores da fazenda, ele nos recebia com satisfação na sua casa, um casebre de taipa que ficava vizinho ao chiqueiro das ovelhas, ao lado da capela. Um senhor animado, de baixa estatura, a usar chapéu de couro escuro amaciado pelo uso, de rosto alegre, família numerosa, trabalhador nas várias funções, desde cuidar das vacas, das ovelhas, plantar no inverno e atender a outras atividades, principalmente em época de moagem.
Foram eles, os moradores, meus primeiros professores; e seus
filhos, meus primeiros amigos de peraltices. Nisto, tal gravação persistente,
esse fio de tantas histórias desfila diante das situações dagora, a narrar conteúdos
guardados a sete chaves pelos corredores distantes do pensamento. Espécies de
segundos seres em mim mesmo, são contações de infinitas histórias que ativam a
consciência, numa procura constante de interpretação do que ficou lá atrás nos
dias que se foram sorrateiramente; pessoas, vivências, lugares, sentimentos,
ocasiões, um aglomerado informe de continuidades que nos dá a nítida certeza de
sermos as testemunhas de um roteiro exato que jamais terminará.
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