As lendas nascem disso, da certeza dos sonhos. Os filmes, os livros, as histórias gerais. Primeiro se apresentam no meio das noites, avassalam o espaço incontido no sono e convergem às derradeiras luzes da noite em forma de enredos por vezes guardados na memória quando não desaparecem do jeito que chegam. Peças metálicas de engrenagens fantásticas. Superam as avaliações imediatas e acrescentam esperança naqueles que a perderam no transcorrer das gerações.
Eles, os sonhos, que falam das verdades ocultas sob
escombros monumentais de longas caminhadas pelos desertos da solidão.
Propugnam. Transmitem fantasias de roteiro inalcançáveis logo ali de imediato.
Abrem espaço no passado. Encobrem as letras escuras do Destino. Superam as
dúvidas, os vacilos e constrangimentos abandonados entre os rebotalhos que
ficaram esquecidos no tempo e nas gavetas dos trastes mais antigos.
Espécie de fé que sobrevive às cascas do desespero, sonhos
trazem fortuna, marcas d’água no colo das luas enamoradas, alimento do mistério
que constrange e atropela desejos da humana felicidade. Têm tudo consigo. Vêm
nas religiões. Nos ventos alvissareiros da sobrevivência. E fornecem orações
poderosas que vencem o quanto ainda resta de saudade naqueles que atravessaram
as pedreiras e o semi-árido das ausências.
Sonhar, afinal, contém o senso da realização do Ser. São partículas
que circulam os ares do Inconsciente e substitui a insistência em viver só o
que o pensamento quer determinar no íntimo das criaturas. E supera o fastio repetitivo
de imaginar que haja algo de intransponível durante todo tempo. É a matéria-prima
da renovação do existir às nossas mãos, porquanto fala uma linguagem coerente
de valores nascidos na lama escura do chão que nos abriga. Algo, assim, que nos
transporta a outros planos nunca antes considerados, quais abismos de
profundidade sem fim.
(Ilustração: Sonhos (https://www.sonhos.com.br/sonhar-com-barco).
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