Daquelas paisagens lá de um tempo de criança que ainda persistem no silêncio dos fins de tarde neste Sertão dos raros gorjeios distantes dos derradeiros pássaros, das cores avermelhadas no poente, de ecos longos do dia que recolhe suas luzes e se vai, e quase ninguém, nenhum vivente mais que viesse preencher o vazio imenso da solidão que traz consigo o escuro das noites mornas. Aos olhos da criança que fora, um mistério ensurdecedor de algo assim que falava aos meus olhos que tivessem de percorrer desde esse tempo tão distante e o roteiro que nunca deixou de vir. Mero observador de tudo aquilo, hoje presencio, com certo êxtase, as mesmas horas. Vejo persistirem iguais interrogações que formam o lusco-fusco meio escuro dos fins de tarde, a gritar de ausência os corações, espécie de saudade crônica de vagar os instantes e deixar rastros tênues, a perscrutar os céus a razão de tudo aquilo. Nada reflete melhor as indagações da existência do que esses instantes cálidos, entrecortados de lamentos contundentes, melancólicos, um abismo a fugir constante no transcurso das gerações.
Nisto, nessas ocasiões, vêm as avaliações do que vivemos;
quanto já passou, quantas oportunidades largadas ao léu, os gestos, as práticas
comuns que, quais sementes, fomos plantando nos relacionamentos, profissões,
viagens, inércias, indiferenças, etc. Nós e a coletividade em volta, seres em
movimento face ao desafio de responder a que estamos neste Chão. Esfinges de
nossas almas, construímos mundos imaginários e neles habitamos escravos e
senhores, nos desafios vividos à força das individualidades, grudados nos
rochedos que são os dias que somem implacáveis sob nossos pés.
Enquanto isso, me recolho àquelas lembranças distantes, agora
inacessíveis, que teimam continuar junto de mim, traços a falar segredos alimentado
nos sonhos de quando iniciava essa jornada e que prosseguem aqui de junto quais
companheiros fieis, o conforto amável das horas intermitentes desde então.
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