domingo, 3 de janeiro de 2021

E às vezes, os sonhos


Durante sóis que alimentam os dias, damos conta das infinitas possibilidades que dispomos no esforço de viver. São os sentidos a falar mais alto. Indicam meios de preencher o vazio que somos nós. Dar de conta do fluxo dos pensamentos e sentimentos, e depois de tudo ainda ser feliz. Nisto existem os sonhos, aliados silenciosos e difíceis de saber do que são feitos. Eles invadem as noites; quando acordados, os exercitamos a transformar o mundo e as existências. Quando adormecidos, eles sonham a gente. Sonhos ativos, que dão notícias doutra realidade, aparentemente inexistente, porém que já disseram ser a realidade real, invés desta daqui de fora, só passageira e frágil. 

Num mergulho na compreensão, vemos as noites preenchidas pelas novidades que nem de longe a gente imaginaria morar dentro da consciência, tais fazendo de nós meros brinquedos de destinos ignorados. Horas e horas de sonhos equivalem a vidas inteiras. Marceneiro do impossível, o rei do Inconsciente trabalha a nossa percepção, manuseando códigos e interpretações desde passados distantes, a presentes e futuros, vagando soltos pelos ares do universo interno e que ninguém sabe aonde nem de onde vêm. E revelam meios profundos de compreender a existência, por vezes próprios dos taumaturgos, sábios e artistas geniais. Enredos refinados, dramas e comédias; medos e alegrias dos filmes de ficção.

Além disso, normas impõem desvendá-los, autores esses que chegam a produzir tratados e leis, escolas e métodos, contudo numa fase experimental da Ciência, porquanto viver significa isto de experimentar, no afã de salvar e se salvar seja do que seja. De tal modo, o Inconsciente fala de si a si mesmo, e reclama espaço no território íntimo dos viventes. Resumindo, saber ler os sonhos representa permissão do Inconsciente a domar a Consciência, jeito de mostrar à gente a causa de haver vindo ao aqui na descoberta do Reino da Felicidade.

Destarte, bem que a Natureza oferece os instrumentos suficientes de justificar e trabalhar até que encontremos o motivo que nos trouxe a este lugar tão misterioso.

(Ilustração: 2001, Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick).

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