segunda-feira, 15 de junho de 2015

Jornal A Ação

Era o ano de 1966, terceiro do regime militar; governo de Castello Branco. Eu cursava o científico, no Colégio Diocesano, em Crato. Lia o que me vinha às mãos, ato mágico de conhecer os pensamentos alheios. Transpirava boa disposição para escrever. Sonhava com a oportunidade de utilizar, ao meu modo, as palavras impressas para transmitir o que vejo e avalio. Conhecera Antônio Vicelmo do Nascimento na redação do jornal Folha do Cariri, que funcionava no Edifício São Raimundo, na Praça Siqueira Campos, onde procurei publicar meus primeiros textos, sem muito sucesso.

Ele me convidou para auxiliá-lo na elaboração de um noticiário que apresentava na Rádio Araripe, quando ainda não recebíamos o sinal da televisão. Eu produzia a parte internacional, recolhida de rádios estrangeiras.

O trabalho durou poucos meses, até ele ser convidado para chefiar a redação do jornal A Ação, órgão secular da Diocese, que funcionava na Empresa Gráfica Ltda., em frente ao Palácio Episcopal, na Rua Dom Quintino. Reuniu equipe formada de Armando Lopes Rafael, Pedro Antônio Lima Santos e eu, estudantes aficionados das letras. Somaríamos esforços ao dos membros anteriores do semanário, padre José Honor de Brito, diretor do jornal e da gráfica, padre Gonçalo Farias Filho e o jornalista Huberto Esmeraldo Cabral.

Iniciava-se, desse jeito, momento atípico do jornalismo caririense, responsável por linguagem dinâmica, atual, ao nível do grande público, diferenciada dos moldes anteriores da tradição eclesiástica até ali utilizada. 

Nas suas primeiras providências, Vicelmo deslocou-se a Fortaleza, visitou as redações dos jornais da Capital, trouxe famílias de tipo para as manchetes e textos, logomarcas para as colunas e clichês de republicação, e pediu a compra de uma clicheria, à maneira dos jornais da época. Quando chegamos, existiam nas oficinas duas linotipos e uma possante rotativa recebida através de programas católicos de auxílio dos alemães, o suficiente a fazermos um bom produto.

O enfoque dado à abordagem noticiosa permitiu que produzíssemos matérias até agressivas, questionadoras, por vezes destacando aspectos instigantes, sociais, policiais, políticos, inéditos na imprensa local.  Rápido vimos disso o resultado. Saía-se de uma centena e meia de exemplares, o que encontráramos no começo, para, nas maiores tiragens, chegar a algo em torno de 1.500 exemplares. Das iniciais quatro páginas, não demorou a que se chegasse a doze páginas.

Cheio de motivos palpitantes, o semanário provocou sensação, ao gosto dos leitores, que ganharam parceria na atividade, qual laboratório efervescente dos acontecimentos, a ponto de recebermos a visita de pessoas da cidade e de outros lugares para conhecer o trabalho. Na redação, transpirávamos esse clima de renovação, obtido com a nova política e as feições modernas do jornal.

Os anos de 1967 e 1968 simbolizaram marcos incomuns das transformações de costumes no mundo inteiro, evidenciadas pelos meios de comunicação de massa. Em Crato, o fenômeno encontrou, no jornal A Ação, um espaço de repercussão desse humor de liberdade e esperança, precursor das mudanças posteriores que varreriam a história contemporânea.

Tais movimentações jornalísticas adotadas extrapolaram seu âmbito particular e influenciaram outras áreas da comunidade, motivando aragem criativa, que resultou na elaboração de jornais estudantis, livros e mobilização cultural, algo semelhante ao que se dava nos centros maiores.

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