Contudo a quem escreve cabe o solitário dever das respostas, invés de perguntar; autor presente, leitor ausente... Leitor presente, autor ausente.
Nisso, algumas vezes, questões podem vir nos aspectos comuns, meandros e impressões onde viver significa reunir experiência.
Por exemplo, quando padecem as dores atrozes de existir, criaturas se submetem ao crivo de penas atrozes, tragédias aos olhos da rua, das residências, dos hospitais, manicômios, presídios, becos escuros, vilas descalças. Período em que outros, no tempo ao lado, riem e festejam turnos ilusórios, tronos atapetados, parques alegres, salas de espetáculo, estádios, mostras faraônicas do estado sólido da matéria, puros adiamentos.
Desta forma, entre lágrimas e sorrisos, há distância infinita, não superior, no entanto, a milímetros estreitos que dividem dois lados de uma mesma moeda.
Aquilo de lembrar vizinhos abandonados dos amantes fogosos, flagrante impõe na contradição à roleta da sorte, na escola do mundo.
E cresce o enigma de viver diante da lei da compensação: Alimentar sonhos de felicidade perene em meio às guerras e crises, valores da busca incessante do ser. Noutras palavras, equilibrar os pratos da balança da fortuna requer mínimo de senso de justiça, princípio de não fazer ao outro aquilo que não quer a si, nas palavras de Jesus.
Afirmações exigem, pois, esforço de transmitir intenções claras, que representa a luta de encontrar o Si próprio, no intuito de superar a trajetória impermanente de morar um corpo de carne até chegar a espírito puro, sublime instante da revelação final da essência.
Todos, sem exceção, transitam nessa faixa de personalidade com destino traçado de chegar a ser eterno, percurso das vidas reencarnadas. Ninguém vem aqui só a passeio. Nas horas amargas dos conflitos, afloram possibilidades do infinito, encontro com o Eu verdadeiro, na morte da vida temporal e no renascimento para a Vida.
Este parto cósmico requer conhecimento e renúncia, qual largar a Terra rumo às estrelas, invés de peregrino. Nessa hora de chegar à casa do Pai celestial, fruto dos degraus da natureza, calados, romperão o peito os solitários humanos, nascidos no âmago do coração. Assim, primeiros raios do sol da manhã invadem a alma com o brilho das bênçãos, cessando dores lancinantes, malhas do aço resistente da esperança, em atitude certeira do amor de Deus em nós.
(Ilustração: Hieronymus Bosch).
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