Dentre as muitas
histórias registradas pelo povo figuram as do Major Bento, oficial da Polícia
do Estado do Ceará, conhecido pelo rigor disciplinar com que tratava os
problemas que lhe chegavam às mãos. Por duas ou mais vezes (anos 50 e 60) veio
de ser delegado em Crato, onde pude conhecê-lo a se movimentar com seus praças
da patrulha em um jipe de capota aberta na metade do carro, impondo respeito e
determinando procedimentos. Dele a invenção do castigo conhecido sob a
denominação de dança do sapinho, mais
destinada aos farristas e seresteiros que fugiam do enquadramento regular,
para, na ressaca, pularem de quatro debaixo de uma mesa com pregos de ponta
para dentro, no tampo, ao som das músicas da moda.
Sabe-se que as festas
juninas sempre (e ainda hoje) deram muito trabalho às autoridades, por causa
dos fogos, balões, tiros, foguetões, provocando desassossego bem antes, durante
e depois da época própria.
Numa de suas missões
no Município, o militar resolveu dar um basta nos abusos generalizados. Com
certa antecedência, baixou portaria para disciplinar o assunto, proibindo de
modo terminante o uso de bombas, traques, pistolas, etc. Fossem barulhentos,
perturbassem a paz pública, enquadravam-se na pauta das restrições. Vale
lembrar que nas ordens emanadas dele, Chico Bento, como o apelidavam pelas
costas, não cabia moleza. Enfim a conhecida (mas pouco obedecida) lei do silêncio fora imposta com justeza
entre os cratenses.
Nessas rondas que
perfazia para manter a ordem, certa noite, nas imediações do Colégio Diocesano,
ao dobrar a esquina, Bento presenciou ato delituoso enquadrável na sua
determinação, sendo praticado em flagrante delito, quando cidadão acabava de
detonar bomba daquelas grandes, das mais zoadentas e perigosas, conhecida pela
alcunha de cabeça de negro, visto o
tamanho do artefato.
Parado o jipe,
restaram no local, arrasado, o autor da contravenção e a patrulha policial
cheia de vontade, pois outros circunstantes sumiram qual num passe de mágica.
Antes da manifestação do delegado, reagiu trêmulo o acusado, através de
expressão bem sabida nas rodas anedóticas da cidade:
- Mas Major Traque,
foi só um bentinho que eu soltei.
Dada a força
humorística da situação que se estabeleceu, o oficial caiu numa sonora gargalhada...
e deixou a punição para o caso de reincidência; sorte do autor da peripécia.
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