terça-feira, 23 de junho de 2015

Flores metálicas

Enquanto as histórias brotaram feito capim seco em rachaduras de asfalto, nos becos, cardos cresciam pelos vãos abertos das calçadas de tijolo das igrejinhas, sítios largados diante da fuga rural do Nordeste. Resultado: um tal de organizar papéis que não acaba mais. Papéis e arquivos de computador, essa besta de carga dos tempos atuais, quando máquinas sofisticadas ocupam o lugar dos cérebros e de suas transferências forçadas, meio liberdade coagida, coisas de responsabilidades coletivas. Corrida pelo pão. Pela fama. Simulação de perfeição nas geringonças plastificadas, e fibras, e condutores, tipo formiga de monturo, personagens de desenho animado, seres humanos que abrem os braços ao desconhecido eletrônico, entregues aos futuros imaginários.  

Nesse passo, há sensações de pouca ou nenhuma autoridade conduz os negócios do Império, com tropas lançadas a tudo quanto é canto, batendo-se contra inimigos inexistentes, ou criados na ficção de filmes à moda mecânica.

Nas ruas, pessoas movimentam, daqui para ali, fardos industriais em troca de chãos. Despertam faceiras e realizam as tarefas de viver dos ontens por absoluta espontaneidade, livres das maiores cogitações de consciência, esgotados outros veículos individuais nos sonhos da plenitude de voltar a crescer novamente.

Crianças pedem brinquedos. Namorados, família, casa, comida. Jovens, alegria, invenção do místico, vozes e sons das muralhas intransponíveis, em meio ao toque burocrático da velha televisão e seus programas de fim de tarde amargurosos e, por isso, atraentes no sensacionalismo diário das doses de sacrifício impostas no cardápio.

Noventa por cento dos produtos mandados lá fora refletem o quadro da lamúria dos guetos, populações andrajosas e pasmas com a lama até o pescoço, a escorrer no céu aberto, no leito das salas-de-jantar e banheiros, antes e depois das campanhas políticas milionárias.  

Grandes farras de realimentação do sistema nutrem, pois, missões ingratas de preservar o patrimônio colonial das economias emergentes. A quem reclamar não existe nos códigos estabelecidos. 

Dormir feliz e acordar disposto, restam a eles as funções modernosas costumeiras, portanto. Repousar, bois do bagaço, ao estio das tamarineiras frondosas; e pronto.

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