Conta uma história da tradição européia atribuída a Santo Agostinho que Pitias, jovem prisioneiro romano, achando-se condenado à morte, durante o período em que aguardava o cumprimento da sentença quis muito rever seus pais que moravam distante e de quem era o arrimo, sem, contudo, receber do tirano Dionísio crédito de confiança imprescindível a empreender essa tão longa jornada.
Ao saber do desejo extremo do amigo, outro jovem de nome
Damon buscou o palácio e se ofereceu para substitui-lo na ausência, propondo, inclusive, caso não retornasse na hora estabelecida que, em absoluta eventualidade, prestar-se-ia até mesmo a ficar no seu lugar no instante da execução pública, poucos dias adiante.
O imperador considerou a oferta, dando amparo suficiente a que Pitias buscasse a remota província, aonde, saudosos e debilitados, viviam os genitores. Face disso ficara na prisão em seu lugar o voluntário Damon.
Os dias céleres transcorreram, demorando quase nada a chegar o prazo fixado da condenação.
Nesse dia, o imperador e muitos outros cidadãos acordaram de espírito voltado ao pacto dos dois amigos. A cidade fervia de comentários em vista do completo desaparecimento de Pitias, de quem mais nenhuma notícia souberam desde a sua partida.
As solenidades previstas se dariam de qualquer jeito, conforme o estabelecido. Cedo da manhã, largas manifestações sacudiram a massa estertorosa das gentes nas arquibancadas do circo. Gritos histéricos feriam os ouvidos ansiosos de Damon, trazido ao meio da arena e exposto aos ânimos exaltados daquela multidão impaciente. Renderia destarte nisso o pacto de compromisso firmado em amor do amigo.
Enquanto que, diante da exiguidade do tempo e nos limites da força física, de um dos portões do estádio superlotado, exangue, esquálido, surgiria Pitias, causando espasmos na população silenciada com o forte gesto demonstrando maior lealdade de quem permanecera no seu lugar.
Perante os presentes, o condenado se dirigiria aos carrascos, libertando Damon, o amigo fiel.
Também assustado com o que vira, de pronto Dionísio ordenou a suspensão do ato punitivo e, solene, desceu da tribuna emocionando indo abraçar os dois amigos, numa reverência profunda ao cumprimento da palavra firmada.
Face daquilo, sensibilizado, o imperador decretou a absolvição de Pitias, afirmando por acréscimo, segundo a história:
- Tudo, nesta vida, não vale esta amizade que hoje posso testemunhar.
Nada supera a amizade. Nem amor. A amizade não aprisiona, não,cobra, não tem ciúme, não desdenha... Amizade é a dádiva do ser humano, somente superada pela gratidão.
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