Isso de demorar a comer desse exemplar de canino me relembra história que minha mãe contava quando a gente era criança. Dizia que a mãe da preguiça antes de servir a refeição perguntava à filha: - Preguiça, tá com fome? – E ela dengosa respondia: - Sim, mãe, ‘tou com muuiiita fome.
- Quer comer -, continuava no diálogo.
- Quero, quero -, lentamente respondia.
- Pois vá buscar o prato no armário.
- Ah, mãe, tão longe... Quero mais não.
Vejo naquilo agora nas atitudes do cachorro que crio preso durante o dia e à noite dorme solto. De queijo apoiado nas patas dianteiras o dia inteiro, filosofando que é uma beleza, de olhos no tempo, ali amarrado acompanhando o movimento dos outros bichos enquanto esquece a panela aberta com a ração exposta. Vêm tartarugas, estiram o pescoço, e comem. Os pássaros sobem na borda, e comem. As lagartixas, ligeiras, comem. Até os ratos, de noite, deram de furar o saco, deixarem suas marcas. E ele, o responsável, nada. Demora o dia todo no maior desinteresse, a me trazer de volta a velha história da mãe da preguiça.
No entanto serve de algum motivo, de lembrar alguns da espécie que somos nós, que desfilam dias e dias porque veem outros viverem. Deixam o barco correr solto à espera do maná cair do céu, gostam do bom e do melhor, sem, contudo, nem de longe querer enfiar
prego numa barra de sabão. Observam as nuvens passar no firmamento e ficam à procura de achar na imaginação o pão que garanta o nascer dos dias seguintes. Ah, vidas essas às vezes parecidas com vida de gente acomodada.
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