Mergulhar em algumas avaliações místicas justamente em um
tempo quando resta mundo esquecido de valores antes fundamentais, se é que um
dia foram fundamentais, nesse pesar das eras. Lembrar os raciocínios de Deus a
que neles se detiveram filósofos sós nas páginas amareladas dos velhos livros
quase abandonados no decorrer das práticas cotidianas deste mundo insano. Hoje,
falar em Jesus, Buda, Lao-tsé, Kierkegaard, Platão, Orígenes, remexe as fibras
machistas dos tambores acelerados e os
padrões da era nuclear de deuses entontecidos e estéreis, ícones de acrílico e
fibra de vidro, rolados e impressos nos painéis gigantes da terceira dimensão, vazios
de conteúdo real.
Às raias do absurdo, indiferentes, jogaram os dramas da
espécie, comédia insólita dos porões vazios da máquina embrutecida e esfumaçada
na embriaguez de farras. Há gigantes em tudo, nas vitrines e nos paraísos
artificiais da massa melancólica, que vaga absorta e de olhos pegajosas.
Enquanto isto, a única
saída verdadeira é precisamente onde não há saída no juízo humano. Senão, para
que precisaríamos de Deus? As pessoas só se dirigem a Deus para obter o
impossível. Para o possível, os homens bastam, afirma o filósofo russo León
Chestov.
Nunca, tal nestas datas momentâneas dos princípios de século
XXI, houve tamanha ausência dos instrumentos morais que permitissem aos humanos
adotar um sentido justo às suas existências tangidas pela engrenagem do magno
sistema dominante. Quais lesmas de aquário, eles descem, sórdidos, acomodados,
as escadarias de pedra dos altares do sagrado e se deixam imolar feitos
mercadoria nos salões engalanados da ilusão artificial, racional.
As almas, no entanto, ansiosas de virtudes e banhadas nas
lágrimas da solidão dos grupos, buscam meios de recordar o trilho abandonado nas
selvas da Natureza, e erguem aos Céus preces esquecidas. Eis Deus: devemos remeter-nos a Ele, ainda que não corresponda a
nenhuma de nossas categorias racionais, insiste Chestov.
Aos raios dourados da Esperança, Razão em seus frágeis
argumentos agora demonstra o pouco do que trazia na caixa das fantasias, presa
também de nenhuma possibilidade além da matéria em fria decomposição.
Eis Deus, o absurdo que renasce das cinzas no coração dos vales
de antigamente.
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