Há pouco, de noite, escutara na consciência que seguisse, no entanto para falar, sim, as palavras que Deus mandasse.
Quando a caminho acompanhado de dois servos surge-lhes na frente um anjo do Senhor armado de reluzente espada, só visto pela jumenta, que por isso arrastava seu dono noutra direção, acuada que ficara ante a inesperada visagem. De nada serviu mudar de lugar, pois o anjo correu e, outra vez, interceptou-lhe a montaria, que agora forçava as pernas de Balaão de encontro aos arbustos de uva quando prosseguia bloqueada pela imagem que avistava.
Sem compreender aquilo, aborrecido, insistente, o profeta espancava e constrangia as ancas do pobre animal, querendo-o, a qualquer custo, de volta ao trecho da jornada. Alternativa não restou; a jumenta dobrou-se exausta sob o peso do homem furioso, que mais ainda lhe vergastava, a ponto de ela chegar a falar:
- Que é que ti fiz, Balaão, para merecer tanto castigo?
- Perdeste o respeito comigo - revidou surpreso o cavaleiro, após aplicar sucessivas camadas de cipó na jumenta. - Possuísse aqui instrumento de corte e te mataria agora mesmo. - Não sou eu tua montaria há quanto tempo? Que outras desfeitas te fiz até hoje? - seguiu questionando o animal exausto. Nesse momento, Balaão, envergonhado, de cara no chão, notou a visão do anjo de espada em punho a lhe dizer:
- Por três vezes marcou esse bicho, enquanto eu bloqueio sua estrada para que não contraries a minha vontade. Houvesses continuado e serias eliminado por desobediência, em vez de a jumenta por ti ameaçada e que salvou tua vida recusando passar contra mim.
Ainda querendo retornar, em sinal de arrependimento, porém, sob a determinação do anjo Balaão prosseguiu a viagem. Cumpriria uma missão bem contrária à que lhe impunha o rei:
- Vai com esses homens, mas falarás o que eu disser.
Tal modo aconteceu naqueles primórdios da história de Israel, de acordo com o livro bíblico de Números (22, 20-35).
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