Desde
cedo da noite que o coronel percebera os sons de harmônica pelo ar escuro da
fazenda, zabumba, pandeiro e triângulo, vinha de dentro das matas em pleno meio
de semana. Naquelas bandas, as autorizações para os sambas de latada careciam
de longa preparação. Até o delegado havia de ter conhecimento e permitir,
quando fossem realizar, nas fazendas, as promoções de si tão violentas dos
caboclos rústicos do lugar. Nada disso haviam providenciado. Nenhuma notícia de
samba.
O
primeiro portador até ali não retornara com as notícias. Despachado a fim de
acabar com o festejo e saber dos responsáveis, sumira de tudo, sem vir, nem
mandar qualquer recado. Essa a razão da impaciência do proprietário das terras,
na sala principal da casa grande, a andar num pé e noutro, transferindo
contrariedades aos ouvidos tensos da esposa. Sentada perto de uma janela, a
mulher fixava os olhos na espera angustiosa dos acontecimentos.
Nessa
hora, resolveram chamar outro portador e encaminhá-lo com a mesma finalidade.
Outro
tanto de tempo, quase uma hora depois, e nada de resultado. Algo na verdade esquisito
existia naquilo tudo. As ordens do fazendeiro jamais foram desconsideradas do
jeito daquele momento. Esperariam mais só um pouco.
A
música soprava na brisa das bandas do lugar da festa, trazendo nítido o calor de
farra, se ouvindo ainda gritos e gargalhadas, misturados com forró. Lá longe, a
casa fervia de animação, acrescentando as apreensões ao casal.
Ainda
não retornara o segundo emissário, quando resolveu o coronel em pessoa examinar
de perto a afronta dos agregados. Nem imaginava que tivessem tamanha audácia de
desobedecer. Ele equipou o rifle de entrar na dança e seguiu na escuridão da
noite sem lua.
A
mulher fechou portas e janelas, e permaneceu de sentido em alerta. Contudo isso
durou pouco, pois se rendeu ao enfado, caiu em sono profundo dentro do casarão
silencioso.
De
manhã, sol nas alturas, despertou escutando o marido desconfiado que empurrava
a escora da porta. Com os olhos avermelhados de quem dormiu pouco, ou não
dormiu. Nisso foi dizendo:
-
Pense num homem divertido o compadre Lampião. Dançou o tempo todo sem
demonstrar qualquer cansaço - falou sorrindo amarelo e seguiu rumo da cama,
pois passara a noite em claro, batendo zabumba na festa dos cangaceiros que se
arrancharam numa manga das proximidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário