Na história do Tatu há
um personagem que permeia os acontecimentos dos últimos anos de Fideralina,
amiga inseparável nos momentos quando viveria o rescaldo da história de
mandonismo que conduziu e marcou a história do feudalismo sertanejo no Nordeste.
Esse personagem, a
escrava Tomásia, remanescente dos cativos de antes e chefe da família dos
Pretinhos, dentre os quais conheci Seu
Antônio Pretinho e Sá Cecília, que
morava logo adiante da bagaceira do engenho, no lado de direito de quem olha do
alpendre da casa grande. Era acima de uma das represas do Açude Grande e meio caminho
entre a casa grande e a capela situada ao lado da casa onde nasci numa pequena elevação,
construída por meu pai.
Antônio Pretinho fora pai de João Preto, Francisco
(Chiquim), Maria Preta (esta que passava fases de demência a ponto de
permanecer trancada) e Lourdes, que moraria quatro décadas com meus pais e cuidaria
de mim na primeira infância.
Tomásia providenciara,
juntamente com Fideralina, o acondicionamento de bens de prataria e ouropeis,
moedas e outros mais, que constaram da propalada botija ainda hoje sem
paradeiro. Segundo consta, elas cavaram o lugar de depositar o tacho com essas
coisas e ambas o puseram na cabeça de Lourenço, o vaqueiro da propriedade, indo
com ele, nas caladas da noite, até o ponto de ali deixarem para cobrir de terra.
Lourenço jamais
localizaria o sítio daquela empresa, terminando os dias a repetir cantilena: - Faz
roda, Lourenço... Faz roda, Lourenço... – palavras que lhe diziam as duas
mulheres ao fazê-lo girar, de olhos vendados, e em seguida conduzi-lo aonde
haviam cavado. Ele recordava tão só que no caminho passara por duas cancelas de
que ouvira as pancadas.
Ao lado de D.
Fideralina Augusto, Tomásia presenciara o apogeu da família, usufruindo alegrias
e comungando o gosto amargo dos eventos tristes do clã nas contradições de
violência e política que, então, mobilizou.
Numa das paredes da casa
grande da fazenda, nas movimentações do III Cariri Cangaço realizado em Lavras
da Mangabeira em maio de 2013, estava a fotografia de Sá Cecília, nora de Tomásia, que ora ilustra este pequeno
comentário, resgatada no tempo graças ao empenho de Cristina Couto, atual
Secretária de Cultura do município, que reuniu rico acervo da iconografia da
família e bem ilustrou salas, quartos e corredores da antiga residência da cearense
ilustre.
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