quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tomásia


Na história do Tatu há um personagem que permeia os acontecimentos dos últimos anos de Fideralina, amiga inseparável nos momentos quando viveria o rescaldo da história de mandonismo que conduziu e marcou a história do feudalismo sertanejo no Nordeste.

Esse personagem, a escrava Tomásia, remanescente dos cativos de antes e chefe da família dos Pretinhos, dentre os quais conheci Seu Antônio Pretinho e Cecília, que morava logo adiante da bagaceira do engenho, no lado de direito de quem olha do alpendre da casa grande. Era acima de uma das represas do Açude Grande e meio caminho entre a casa grande e a capela situada ao lado da casa onde nasci numa pequena elevação, construída por meu pai.

Antônio Pretinho fora pai de João Preto, Francisco (Chiquim), Maria Preta (esta que passava fases de demência a ponto de permanecer trancada) e Lourdes, que moraria quatro décadas com meus pais e cuidaria de mim na primeira infância.

Tomásia providenciara, juntamente com Fideralina, o acondicionamento de bens de prataria e ouropeis, moedas e outros mais, que constaram da propalada botija ainda hoje sem paradeiro. Segundo consta, elas cavaram o lugar de depositar o tacho com essas coisas e ambas o puseram na cabeça de Lourenço, o vaqueiro da propriedade, indo com ele, nas caladas da noite, até o ponto de ali deixarem para cobrir de terra.

Lourenço jamais localizaria o sítio daquela empresa, terminando os dias a repetir cantilena: - Faz roda, Lourenço... Faz roda, Lourenço... – palavras que lhe diziam as duas mulheres ao fazê-lo girar, de olhos vendados, e em seguida conduzi-lo aonde haviam cavado. Ele recordava tão só que no caminho passara por duas cancelas de que ouvira as pancadas.

Ao lado de D. Fideralina Augusto, Tomásia presenciara o apogeu da família, usufruindo alegrias e comungando o gosto amargo dos eventos tristes do clã nas contradições de violência e política que, então, mobilizou.

Numa das paredes da casa grande da fazenda, nas movimentações do III Cariri Cangaço realizado em Lavras da Mangabeira em maio de 2013, estava a fotografia de Cecília, nora de Tomásia, que ora ilustra este pequeno comentário, resgatada no tempo graças ao empenho de Cristina Couto, atual Secretária de Cultura do município, que reuniu rico acervo da iconografia da família e bem ilustrou salas, quartos e corredores da antiga residência da cearense ilustre.  

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