Certa vez, na missa de domingo, um roceiro foi
tocado de imensa compaixão pela figura do Cristo esquelético na cruz, que
avistara no altar da igreja, trazendo, nas costelas à mostra, sinal de muita
fome e penúria, de braços abertos, no derradeiro sacrifício.
- Senhor, vá almoçar comigo na minha casa, de
hoje a oito dias - pensou sensibilizado, convidando, dessa forma, Jesus para
lhe atenuar as visíveis necessidades daquela situação.
Uma semana depois adquiriu alguns peixes e
mandou que sua mulher os preparasse, dizendo a que se destinavam, pois havia
chamado o Divino Mestre para com eles almoçar.
Pouco antes da hora da refeição tivera de sair rápido
a compromisso de que logo retornaria. Nesse ínterim, apresentou-se um velhinho
carente que pediu à esposa do roceiro qualquer coisa de comer. A mulher negou o
alimento, se omitiu atender ao necessitado, informando que tinha só o
suficiente dos que viviam na casa.
Restou ao ancião seguir viagem. Embora chegando
quase no mesmo momento em que isso acontecia, o dono da casa não pôde tomar
conhecimento da ocorrência, porquanto a mulher nada falou a respeito.
Aguardaram pouco mais e o marido, achando que não receberia a tão esperada
visita, pediu o almoço.
Bem no início do repasto, a esposa viu-se
engasgada por espinha do peixe que atravessara sua garganta. Nessa hora, lhe veio
no pensamento o velhinho pedinte de horas atrás.
- Antes de tua volta, agora há pouco, aqui passou um esmole, e esse povo antigo tem muita
experiência - lembrou ao marido. - Será que ele não sabe de uma oração para
engasgo? – falou chorosa entre aflita e cheia de esperança.
Veloz, o roceiro cuidou de seguir na direção em
que o homem se afastara, localizando-o daí a pouco na sombra de uma árvore após
a primeira curva da estrada. Explicou, então, ao ancião o estado da mulher e
pediu auxílio para tirá-la da dificuldade. Atencioso, o velhinho orientou:
- Quando o senhor regressar na casa, ponha a
mão no pescoço dela e diga essas palavras: - Homem bom, mulher má, casa velha, esteira de palha, por onde o mal
entra por aí mesmo ele sai.
O marido voltou ao lar e fez tudo de acordo com
a instrução obtida, vendo desde logo saltar fora a espinha inoportuna, livrando
dela a ingrata companheira.
Obs.: História ouvida de Manoel Ferreira da
Silva (Manu).
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