Transcorria o ano de 1978. Voltara a Salvador,
onde permaneceria por mais sete meses, isso face ao nascimento de Ceci, minha
primeira filha, ocorrido em 19 de junho. Nesse período, ficaríamos em
apartamento de um edifício circular, o Orixá’s Center, no Politeama, próximo à
Avenida Sete.
Numa madrugada calorenta do agosto baiano, foi
despertado de sonho de alta voltagem emocional, a mexer com intensidade nas
minhas entranhas psíquicas e causar forte impacto nos meus pensamentos. Dada a
clareza com que se apresentara, na forma plástica de um filme, com direito a se
repetir tão logo que terminou a primeira sessão, pois as imagens se
reproduziram duas vezes seguidas, seu efeito persistiu na minha consciência
logo após o sono e ainda hoje o recordo com absoluta nitidez.
Ele se dava em Crato, no bairro onde mora minha
família desde que aqui chegamos, em 1953. Na varada do segundo pavimento de uma
residência situada no prédio em que funciona
a oficina de pré-moldados de meu pai, local da antiga serraria que ele
possuiu, nos achávamos, minha mãe e eu, enquanto Lydia, minha irmã mais velha
se aproximava, vindo de dentro de casa.
Nessa hora, notamos movimento incomum ao nível
da fachada das casas em frente. Então, nessa direção, avistávamos uma bruxa de
preto a voar numa vassoura, arrastando consigo seguro por uma corda quarto
crescente de lua sem luz para fazê-lo coincidir com outro quarto de lua
brilhante. No exato momento se superpunham, em que lua negra preenchia toda a
superfície da forma idêntica que brilhava, ocorria no céu choque descomunal
qual circuito elétrico expresso em detonação de proporções indescritíveis.
No mesmo instante em que isso se verificava,
por trás das casas, ao longe na paisagem, um avião de passageiros caía e
explodia ao tocar o solo. Algo me indicava que aquilo na realidade ocorreria no
futuro próximo e diria respeito a pessoa de nossa família.
A impressão que a visão acarretara gelava-nos
por completo, e quando a cena se concluiu repetiu-se no mesmo sonho, como antes
dissera, quase sem nenhuma variação, parecendo fita gravada.
De imediato, a reação que esbocei foi me
ajoelhar e rezar pedindo clemência a Deus. Minha mãe permanecia sentada, também
rezando em voz alta. Dentro desse sentimento acordei assustado, sob o impacto
das imagens que presenciara. Saturado de pavor, me levantei e sai do quarto
para a sala do apartamento, buscando por longo tempo a coordenação das idéias e
pedindo socorro ao Alto por causa do que vivenciara naquela noite.
Durante os anos seguintes, recordei algumas
vezes desse sonho, querendo interpretar o seu sentido. A respeito do que falava
de concreto? No entanto, não localizei sua finalidade.
No dia 08 de junho de 1982, quatro anos depois,
residindo em Crato, para onde retornara, se registra o rumoroso desastre aéreo
da Serra de Aratanha, no Ceará, envolvendo o Boeing 727-212A, da VASP, prefixo
PP-SRK, vôo procedente de São Paulo, a ocasionar o maior acidente da aviação
brasileiro, com o desaparecimento de 137 pessoas, dentre elas Francisco Wagner
Dantas, esposo de Lydia, que estava comigo no sonho.
À época, perante o acontecido, minha mãe e eu
nos deslocamos a Fortaleza, onde acompanhamos de perto todo o desenrolar do
drama, incumbidos de confortar a família vitimada, sempre recorrendo ao amor
divino para vermos minoradas suas dores.
Hoje admito, portanto, que existe um nexo entre
aqueles sonhos e as circunstâncias do acidente posterior. Outrossim desconheço
as razões da antecipação, uma vez que nada pude estabelecer no ânimo de evitar
a trágica ocorrência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário