Primeiro, começaram a
trabalhar o mau gosto como a alternativa de sujar paredes e preencher os vazios
nos finais de semana de porres e descontração. Aos poucos, dominariam as
paradas de sucessos no lugar das composições estrangeiras, despejo industrial
internacional jogado nos países atrasados a fim cobrir as cotas de exportação
das nações que carregavam as matérias primas de baixo custo do pobre Terceiro
ao rico Primeiro Mundo. Praticamente acabaram com o rádio poderoso, dono de
prestígio adquirido quando auxiliou na vitória aliada na Segunda Grande Guerra.
Depois, vieram as
ondas de música e outros efeitos elaborados na televisão de massa, dona quase
absoluta dos horários nobres. Os ritmos baianos, as duplas sertanejas, sucatas de
botecos e baladas, mistura cavalar de barulho com falta de inspiração, em shows agressivos alimentados pelo
excesso de volume dos paredões de som espalhados e incentivados nesse Brasil
inteiro sob a conivência de autoridades complacentes.
Resultado, arte mesma que mereça este nome anda voando baixo nas paralelas e na clandestinidade,
submetida à onda de estética do lixo
que prevalece de modo destrutivo.
Ainda bem que o
registro eletrônico das lembranças, nas gravações, no cinema, nos livros e na
fotografia, preserva anteriores momentos ricos da cultura humana, acima da
senha avassaladora dos caretas dessa fome antropofágica ora efervescente.
Há um livro do escritor
americano Ray Bradbury, denominado Fahrenheit
451, transformado em filme pelo diretor francês François Truffaut, que, na
década de 60, previu a queima dos livros pela dominação política. Daí, os amantes
das letras tratavam de memorizar as obras perseguidas e fugir para regiões distantes,
onde formavam comunidades identificadas na herança futura da Civilização, que
voltará a apreciar o belo em toda intensidade. Segundo a
Wikipédia, o romance apresenta um futuro
onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas
antissociais e hedonistas, e o pensamento crítico é suprimido.
Na atualidade, salvas
exceções honrosas e cada vez mais raras, o instinto bárbaro domina a grande mídia
qual microrganismo corrosivo, infectando as possibilidades criativas, ameaça virulenta
e sem controle.
O que antes significava
Cultura perdeu em qualidade, espécie
de artigo dispensável, inútil. Isto mexe, sim, na certeza de melhores proveitos
das atividades do Espírito evoluído, causando preocupações quanto às sonhadas transformações
da experiência humana pelo bom gosto da Estética renovadora.
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