Algo bem mais
expressivo do Inconsciente humano acontecerá quando inventarmos a máquina de gravar os sonhos. Nessa
hora ansiada, cairá de vez a barreira dos símbolos ocultos. Sumirão de vez os
atravessadores que produzem os bens simbólicos. Chegar-se-á de todo ao
território dos contos, filmes, livros. As histórias das lendas, as fábulas, os
mistérios das faixas sombrias do Ser desfarão a névoa que os encobrem, cairá a
empanada e o teatro será uma coisa só, única, indivisível, atores e plateia
reunidos em peça integral. Mergulhar-se-á nas profundezas das interrogações e,
de volta, as pérolas preciosas revelarão segredos antes insondáveis da
imaginação.
Isto porque há
milhões, bilhões, de produtos vendidos nas calçadas, nos vídeos e nas estantes,
que oferecem de modo ainda precário esse gosto de ouvir narrativas do rio vivo
dos sonhos, porém depois que escorrem nas goteiras das mentes e dos autores.
As gravações dos
sonhos virão diretamente da fonte de água limpa das florestas internas da pessoa,
força viva do coração da montanha original. Ninguém duvidará das verdades
nascidas autênticas, ofertadas bem cedo, de manhã, pãozinho quente na porta de
casa ao sabor das fornalhas acesas e lençóis mornos da madrugada.
Contudo guarda
apreensão naqueles que sonhem talvez pesadelos... Nisso mora o perigo nalguns.
Os sonhos virem recorrentes, melados nos remorsos, nas mágoas acumuladas nos
postos de observação de algumas criaturas. Aquelas ações desencontradas que
puseram cascalho no âmbito das relações humanas, as ingratidões por desventura
cometidas, os gestos torpes, as culpas, as intenções malévolas que sujam a
túnica da consciência, sujeitam querer vir a lume e voltar trazendo sonhos em
forma de intranquilidade, no meio das noites intranquilas.
Bom, isso, contudo
jamais justificaria deixaremos pesquisadores apreensivos para desenvolver a
máquina magistral de gravar os sonhos através das ondas e vibrações emitidas pelo
cérebro nas caladas dos sinais até então obscuros no recôndito da alguma,
enquanto dormimos e sonhamos. Conquanto falemos tantas inconveniências através
dos telefones e transportemos amarguras e incertezas através dos automóveis
apressados, nem por isso ignoramos o valor de tais invenções apreciáveis e
úteis na atual civilização movida a máquinas.
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