quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Artes da memória sonhada


Algo bem mais expressivo do Inconsciente humano acontecerá quando inventarmos a máquina de gravar os sonhos. Nessa hora ansiada, cairá de vez a barreira dos símbolos ocultos. Sumirão de vez os atravessadores que produzem os bens simbólicos. Chegar-se-á de todo ao território dos contos, filmes, livros. As histórias das lendas, as fábulas, os mistérios das faixas sombrias do Ser desfarão a névoa que os encobrem, cairá a empanada e o teatro será uma coisa só, única, indivisível, atores e plateia reunidos em peça integral. Mergulhar-se-á nas profundezas das interrogações e, de volta, as pérolas preciosas revelarão segredos antes insondáveis da imaginação.

Isto porque há milhões, bilhões, de produtos vendidos nas calçadas, nos vídeos e nas estantes, que oferecem de modo ainda precário esse gosto de ouvir narrativas do rio vivo dos sonhos, porém depois que escorrem nas goteiras das mentes e dos autores.

As gravações dos sonhos virão diretamente da fonte de água limpa das florestas internas da pessoa, força viva do coração da montanha original. Ninguém duvidará das verdades nascidas autênticas, ofertadas bem cedo, de manhã, pãozinho quente na porta de casa ao sabor das fornalhas acesas e lençóis mornos da madrugada.

Contudo guarda apreensão naqueles que sonhem talvez pesadelos... Nisso mora o perigo nalguns. Os sonhos virem recorrentes, melados nos remorsos, nas mágoas acumuladas nos postos de observação de algumas criaturas. Aquelas ações desencontradas que puseram cascalho no âmbito das relações humanas, as ingratidões por desventura cometidas, os gestos torpes, as culpas, as intenções malévolas que sujam a túnica da consciência, sujeitam querer vir a lume e voltar trazendo sonhos em forma de intranquilidade, no meio das noites intranquilas.

Bom, isso, contudo jamais justificaria deixaremos pesquisadores apreensivos para desenvolver a máquina magistral de gravar os sonhos através das ondas e vibrações emitidas pelo cérebro nas caladas dos sinais até então obscuros no recôndito da alguma, enquanto dormimos e sonhamos. Conquanto falemos tantas inconveniências através dos telefones e transportemos amarguras e incertezas através dos automóveis apressados, nem por isso ignoramos o valor de tais invenções apreciáveis e úteis na atual civilização movida a máquinas.

As artes da memória crescerão de importância, pois, quando nas esquinas ofertarem seus recentes sonhos camelôs até hoje artistas desconhecidos, grandes estetas, no entanto que viajaram a estrelas distantes, na véspera, e já disponibilizam primorosos filmes sonhados a preços módicos. Quero crer logo, logo, juntaremos essas máquinas eletroeletrônicas ao estoque das criações maravilhosas dos geniais espíritos daqui desse chão de raras belezas.

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