sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A mente seletiva


Há uma tendência natural de retornarem à memória ocorrências do passado que marcaram com maior intensidade os sentimentos. No carrossel das oportunidades e vivências, o que permanece apenas diz respeito aos acontecimentos de relevância, numa função separativa da mente, a defender de sobrecargas a consciência. Caso ninguém esquecesse o que lhe fosse indiferente, jamais existiria memória suficiente a guardar todas as situações experimentadas. Tal função compete aos aspectos seletivos do sistema racional, a preservar o pensamento desses excessos indiferentes.

Aquelas ocorrências relevantes, por sua vez retidas pela sua voltagem sentimental das emoções, quando retornam ao eu do momento, no entanto, de imediato podem ser classificadas em relação aos níveis de qualidades negativas ou positivas. De comum, a força das emoções traz momentos vividos na intensidade antipática ou simpática, parâmetro de seleção.

Quando vêm lembradas tais ocasiões das agruras do passado, experimentadas com desgosto, essas recordações permanecem marcadas na dor. O que também ocorre, porém no sentido inverso, das oportunidades vividas ao sabor dos prazeres de outras vivências. O forte de cada aspecto fica bem guardado nos armários dos sentimentos, pois.

Quem escreve lida de perto com tais pedaços ruins ou bons da própria história. Ao transcrever em palavras e frases essas fatias de memórias, refletem nos textos os humores daquelas situações, registrando conteúdos acumulados em picos de emocionalidade.

A literatura sobrevive à custa da força seletiva das mentes dos seus redatores, que trabalham, sobretudo, planos fortes das inspirações, porquanto houvesse só textos racionais, trabalhados pelo cálculo, e a literatura perderia o aspecto artístico da originalidade, virando objetos mecânicos vomitados de máquinas frias. 
Com isso, o escritor detém potencial de elaboração suficiente a transmitir cargas informativas suficientes a reelaborar além dos pensamentos os sentimentos originais do processo criativo, desde a mais remota criação, numa capacidade rica e transcendente da linguagem oral na forma escrita.

Estas considerações ganham corpo, inclusive, diante dos textos sagrados, a permanecer consistentes no passar das gerações, submersos em mistério, a mover povos nos milênios, revelações sagradas que sustêm a força da Civilização humana sob o aspecto da Crença.  

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