Conta Leonardo Mota, no livro No Tempo de Lampião, que Sabino Gomes,
lugar-tenente do Rei do Cangaço,
andava na pista de Zé Favela, o
responsável pela morte de seu irmão Gregório, vítima de emboscada nos caminhos
traiçoeiros daqueles idos sertanejos.
Um dia, se topou com ele de modo
casual, quando o bando chegava na casa de fazendeiro amigo dos dois. Favela,
desarmado, trazido ao plano limpo do terreiro, por fim purgaria os efeitos do
crime nefando.
Antes, porém, Sabino quis
conhecer as causas que haviam motivado a eliminação de Gregório, rapaz de si pacato e benquisto. Enquanto pelo meio
se metia, a pedir de todos os santos, a dona da casa, com gritos lastimosos de
clemência, de braços erguidos aos céus, reclamava mais tempo de sobrevivência
para o prisioneiro. Deixasse-o viver. Alegava a amizade, dela, do marido, ao
cangaceiro, porquanto sempre lhe ofereceram as portas do acolhimento, sigilo,
proteção, etc.
Nisso, Sabino parou nalguns
instantes e falou:
- Cabra, tu vai me dizer uma coisa: por que foi que tu matou meu irmão!
Segundo Mota, nessas bases se
tratavam os facínoras:
- Seu Sabino, eu matei seu irmão enganado.
- Enganado como, cabra mentiroso?
- Cabra mentiroso, não, seu Sabino! Eu matei seu irmão enganado! Matei
ele enganado, porque eu ia matar era o senhor!
A grave confissão de Zé Favela colheu de chofre o cangaceiro,
dada a franqueza de que se revestiu, pondo ainda maior risco na vida do seu
autor, condenação visível nas trocas de olhar entre o grupo, ligado no
interrogatório.
- Me matar por quê, cabra, se eu nunca te fiz mal?
O infeliz considerou, então, que
fora pago por Joaquim Manduca, da Boa
Esperança, ao preço de quinhentos contos de réis, para que promovesse a
ação criminosa em que se confundira ao eliminar Gregório invés do irmão.
As palavras do homem tocaram qualquer dobra interna na
alma do cangaceiro, pondo-o a estudar as direções que poderiam lhe levar até ao
lugar Boa Esperança, transferindo os
instintos perversos a outro endereço vingativo, quando achasse Joaquim Manduca,
aquele contratante da morte.
Para resumir esse episódio,
Sabino Gomes, naquela hora, terminou por libertar Zé Favela, sob as vistas de moradores e bandoleiros escurecidos pelas
nuvens fumacentas dos cigarros brabos, enquanto o chefe dos celerados ainda resmungava:
- Um cabra destes não se mata! Deixa isso viver pra tirar raça!
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